Comissão da Verdade debate participação de empresários na ditadura
Agência Brasil: Camila Maciel – Repórter Edição: Marcos Chagas em 15/03/2014
A participação de civis, especialmente do
empresariado, no golpe militar de 1964 foi tema de seminário, hoje (15), na
capital paulista, organizado pelo grupo de trabalho Ditadura e Repressão aos
Trabalhadores e ao Movimento Sindical em parceria com a Comissão Nacional da
Verdade (CNV). Na ocasião, quatro pesquisadores apresentaram trabalhos que
mostram a forma como as empresas se beneficiaram e apoiaram a ditadura militar
no país.
“Estamos buscando entender o elemento civil no
golpe e na própria ditadura, sobretudo a participação de empresários. Esse
documento vai compor o relatório final da comissão, porque é um tema
fundamental para entender esse período”, declarou Rosa Cardoso, advogada
criminalista e membro da CNV. As apresentações ocorreram no auditório da Assembleia
Legislativa de São Paulo.
Um dos trabalhos foi apresentado pela jornalista
Denise Assis, que analisou o acervo em vídeo do Instituto de Pesquisa e Estudos
Sociais (Ipês). Criado por empresários cariocas e paulistas, o grupo tinha como
objetivo criar as bases de uma oposição para impedir o avanço dos ideais
socialistas no país. “Foram produzidos 14 filmes que serviram de instrumento de
convencimento da sociedade para que aceitasse e ansiasse pelo golpe”, explicou
a pesquisadora.
Em seu trabalho de mestrado em história, Jorge José
de Melo analisou o financiamento do empresariado paulista à Operação
Bandeirantes (Oban), estrutura governamental que antecedeu o Destacamento de
Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).
Ele estuda, sobretudo, a trajetória de Henning Albert Boilesen, presidente, à
época, da empresa Ultragaz. “A estrutura da Oban foi montada por empresários,
por iniciativa deles, e encampada pelo Exército. Houve uma participação civil
maior [dos empresários] do que a gente imagina na ditadura brasileira”,
avaliou.
O professor Pedro Campos, do Departamento de
História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), apresentou
sua tese sobre a participação das empreiteiras no financiamento do golpe
militar. “Trata-se de uma ditadura militar, mas é necessário qualificar esse
elemento civil. Não foi toda a sociedade brasileira que aderiu à ditadura e ao
golpe”, declarou. Durante o debate, avaliou-se que é preciso responsabilizar
institucionalmente essas organizações, pois grupos que se fortaleceram naquele
momento continuam existindo e detém grande poder econômico.
O procurador da República, Marlon Alberto Weichert,
mestre em direito constitucional, também contribuiu para o debate com a análise
do financiamento dos atos de violação aos direitos humanos por empresários
durante a ditadura militar.
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