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segunda-feira, 31 de março de 2014

Los Hermanos  



*Atahualpa Yupanqui

Yo tengo tantos hermanos
Que no los puedo contar
En el valle, la montaña
En la pampa y en el mar

Cada cual con sus trabajos
Con sus sueños, cada cual
Con la esperanza adelante
Con los recuerdos detrás

Yo tengo tantos hermanos
Que no los puedo contar

Gente de mano caliente
Por eso de la amistad
Con uno lloro, pa llorarlo
Con un rezo pa rezar
Con un horizonte abierto
Que siempre está más allá
Y esa fuerza pa buscarlo
Con tesón y voluntad

Cuando parece más cerca
Es cuando se aleja más
Yo tengo tantos hermanos
Que no los puedo contar

Y así seguimos andando
Curtidos de soledad
Nos perdemos por el mundo
Nos volvemos a encontrar

Y así nos reconocemos
Por el lejano mirar
Por la copla que mordemos
Semilla de inmensidad

Y así, seguimos andando
Curtidos de soledad
Y en nosotros nuestros muertos
Pa que nadie quede atrás

Yo tengo tantos hermanos
Que no los puedo contar
Y una novia muy hermosa
Que se llama libertad!



Atahualpa Yupanqui, pseudônimo de Héctor Roberto Chavero (Pergamino, Buenos Aires 31 de janeiro de 1908 — Paris, 23 de maio de 1992), foi um compositor, cantor, violonista e escritor argentino. É considerado um dos mais importantes divulgadores de música folclórica daquele país. Suas composições foram cantadas por reconhecidos intérpretes, como Mercedes SosaAlfredo ZitarrosaVíctor JaraÁngel ParraMarie Laforêt e Elis Regina entre outros, continuando a fazer parte do repertório de vários artistas na Argentina e em diferentes partes do mundo.



Dilma se solidariza com criadora da campanha "Não mereço ser estuprada"


Agência Brasil: por Luana Lourenço e Paulo Victor Chagas – Edição: Nádia Franco
 
A presidenta Dilma Rousseff solidarizou-se hoje (31) com a jornalista Nana Queiroz, que foi ameaçada na internet após iniciar uma campanha nas redes sociais contra a violência contra a mulher. O protesto virtual “Não mereço ser estuprada” foi criado em resposta à pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgada na última semana, que mostrou que a maioria dos brasileiros concorda que o comportamento da mulher pode motivar o estupro.
“A jornalista Nana Queiroz se indignou com os dados da pesquisa do Ipea sobre o machismo na nossa sociedade. Por ter se manifestado nas redes contra a cultura de violência contra a mulher, a jornalista foi ameaçada de estupro. Nana Queiroz merece toda a minha solidariedade e respeito”, escreveu hoje a presidenta em sua conta pessoal no Twitter.
Dilma disse ainda que “o governo e a lei” estão do lado da jornalista e de todas as mulheres ameaçadas ou vítimas de violência.
Nana Queiroz postou uma mensagem no Facebook na sexta-feira (28) com uma foto em frente ao Congresso Nacional, em que aparece sem camiseta e com a frase “Não mereço ser estuprada” escrita no corpo, convocando o protesto virtual. Várias mulheres publicaram fotos semelhantes, demonstrando indignação com a pesquisa.
Após a publicação, a jornalista foi ameaçada por internautas. “Amanheci de uma noite conturbada. Acreditei na pesquisa do Ipea e experimentei na pele sua fúria. Homens me escreveram ameaçando me estuprar se me encontrassem na rua, mulheres escreveram desejando que eu fosse estuprada”, relatou Nana em sua página na rede social.



50 ANOS DE 1964 DESPERTAM LOBOS EM ‘DEMOCRATAS’


Cinquentenário do golpe militar de 1º de abril extrai verdades existentes dentro de personagens emblemáticos; colunista Arnaldo Jabor, da Rede Globo, afirmou que País "mereceu" quebra da democracia; ex-presidente Fernando Henrique comparou presidente Dilma Rousseff a Jango Goulart, dando pitaco pela desestabilização do governo; ex-governador Paulo Egydio relatou a Geneton Moraes Neto caso de tortura e chantagem sobre o qual lavou as mãos em nome com combate "ao comunismo"; ex-deputado Célio Borja negou ter havido uma ditadura, mas apenas "um governo com plenos poderes"; jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo evitaram qualquer autocrítica sobre apoio editorial – e logístico, no caso da Folha – dado ao golpe; blogueiro Reinaldo Azevedo escreveu, como era esperado, que a culpa foi da esquerda; faltou propor beatificação de militares

Brasil 247, em 31 de março de 2014  
O aniversário de 50 anos do golpe militar de 1º de abril de 1964 mostrou os lobos que existem dentro de personagens que se classificam como democratas.
Um dos primeiros a surpreender em sua compreensão pelo movimento que quebrou o ciclo democrático por 21 anos, cassou 174 parlamentares, extinguiu partidos políticos, perseguiu, torturou e matou militantes de organizações democrática e de esquerda foi o colunista Arnaldo Jabor, da Rede Globo. Polemista com verniz de liberal, ele escreveu que "merecemos" o estado de exceção que as Forças Armadas impuseram ao País. Para ele, as organizações populares não tinham compromisso com a democracia, mas apenas em tomar o poder.
Seguiu também pela linha de culpar o público pelo golpe o blogueiro Reinaldo Azevedo, que tirou de seu saco de maldades o argumento clássico dos golpistas. Ventríloquo da direita, Azevedo cravou que muitos dos apoiadores do presidente João Goulart queriam "implantar uma ditadura comunista no Brasil". As eleições presidenciais marcadas para 1965, como o então pré-candidato Juscelino Kubistchek como favorito, ele, é claro, nem fez questão de mencionar.
Membro da Universidade de São Paulo em 1964, tendo sido cassado do cargo de professor anos depois, o ex-presidente Fernando Henrique deu uma derrapada ao falar sobre o tema. Com o intuito de desgastar a presidente Dilma Rousseff, ela a comparou a Jango, primeira vítima do golpe militar. Pelo mau gosto do paralelo, o que ficou foi um pitaco de FHC na direção da desestabilização do governo. Após Jango, afinal, veio o caos – e foi essa suspeita que ex-presidente deixou no ar.
Visto como um quase democrata, o ex-governador de São Paulo Paulo Egydio Martins revelou ao jornalista Geneton Moraes Neto, da Globo News, que sabia bem mais sobre os porões do regime do que se permitira declarar até aqui. Ligado ao então presidente Ernesto Geisel, Paulo Egydio afirmou que fora informado pelo então secretário de Segurança Erasmo Dias de casos de torturas em presos políticos e chantagens sobre comandantes militares, mas preferiu não interferir. "Eu delegava poder para isso", esquivou-se.
O jurista Célio Borja, que chegou a ser juíz do Supremo Tribunal Federal, fez a alegria do jornal Folha de S. Paulo em entrevista na semana passada. Ele sustentou a tese de que, simplesmente, não houve uma ditadura militar no Brasil, mas apenas "governos de plenos direitos". Para uma publicação que professa o termo "ditabranda" para classificar o regime militar, nada mais adequado.
Os 50 anos do golpe não serviram para que, além da Folha, também o jornal O Estado de S. Paulo fizesse qualquer autocrítica sobre sua participação no apoio à quebra da democracia. Ambos os jornais participaram ativamente a campanha pela desestabilização de Jango na Presidência da República, saudaram a tomada do poder pelos militares e, em seguida, procuraram dar a maior legitimidade possível à nova situação. A Folha, como se sabe, chegou a emprestar carros de distribuição de jornais para o transporte de presos políticos para sessões de tortura. Mas não foi desta vez que os jornais procuraram se redimir de seu casamento com a tirania.

domingo, 30 de março de 2014

ORAÇÃO DO MILHO




*Cora Coralina


Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres.
Meu grão, perdido por acaso, nasce e cresce na terra descuidada. Ponho folhas e haste e se me ajudares, Senhor, mesmo planta de acaso, solitária, dou espigas e devolvo em muitos grãos, o grão perdido inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou.
Sou a planta primária da lavoura.
Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo. E de mim, não se faz o pão alvo, universal.
O Justo não me consagrou Pão da Vida, nem lugar me foi dado nos altares.
Sou apenas o alimento forte e substancial dos que trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre.
Sou de origem obscura e de ascendência pobre. Alimento de rústicos e animais do jugo.
Fui o angú pesado e constante do escravo na exaustão do eito.
Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante. Sou a farinha econômica do proletário.
Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha.
Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis.
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado.
Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece.
Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos.
Sou a pobreza vegetal, agradecida a Vós, Senhor, que me fizeste necessária e humilde,
SOU O MILHO".



*Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins do Guimarães Peixoto Brêtas, 20/08/1889 — 10/04/1985, é a grande poetisa do Estado de Goiás.


Se achava mais doceira do que escritora. Considerava os doces cristalizados de caju, abóbora, figo e laranja, que encantavam os vizinhos e amigos, obras melhores do que os poemas escritos em folhas de caderno. Só em 1965, aos 75 anos, ela conseguiu realizar o sonho de publicar o primeiro livro.

sábado, 29 de março de 2014

A tática do turbilhão


                                                            Partido da Imprensa Golpista, charge de Carlos Latuff
Observatório da Imprensa: por Luciano Martins Costa em 29/03/2014 

Os profissionais de comunicação com experiência em gestão de crise sabem o que é o turbilhão: é uma sucessão intensa de notícias negativas contra as quais nenhuma ação paliativa parece funcionar. Em casos como esses, quando as respostas, argumentações e justificativas são atropeladas pela sequência de acusações, muitas vezes a melhor atitude é o silêncio, ou ponderações pontuais e genéricas, tentando compor um espaço de serenidade no meio da tormenta.
É assim que se comporta, por exemplo, a atual diretoria da multinacional Siemens, cujo presidente vem a público enfrentar a imprensa e, com a maior clareza que permite a circunstância, admite que a empresa cometeu erros no passado e está disposta a corrigi-los, inclusive, se for o caso, indenizando o Estado e a sociedade por eventuais prejuízos.
A empresa não se defende pontualmente de cada ataque, porque sabe que no momento seguinte será publicada nova denúncia, ou uma velha denúncia será requentada com um novo detalhe.
O turbilhão foi detonado nesta semana e segue nas edições de sexta-feira (28/3) dos grandes jornais brasileiros, por conta das revelações sobre as trapalhadas cometidas pela Petrobras na aquisição de uma refinaria nos Estados Unidos. No meio da tormenta, os jornais publicam o resultado de uma pesquisa feita anteriormente ao escândalo, na qual se registra a queda da aprovação da presidente da República. Paralelamente, articulistas afirmam que essa perda de popularidade é a causa do movimento ascendente da Bolsa de Valores.
No mesmo contexto, a imprensa havia feito um grande barulho por conta do rebaixamento do status do Brasil no rating feito pela agência de avaliação de riscos Standard & Poor’s. Da mesma forma, pululam artigos e editoriais reforçando a tese de que o governo atual não é capaz de fazer frente aos desafios do seu tempo. No entanto, o jornalismo diário tem uma característica estranha: os editores não parecem considerar a relação que existe entre um dia e a edição seguinte. É como se a imprensa levasse ao pé da letra o predicado bíblico segundo o qual “basta a cada dia o seu próprio mal”.
Tudo vira comício
Logo após o grande barulho em torno da decisão da Standard & Poor’s, os jornais registram que a Bolsa sobe e o dólar cai, e reproduzem o palpite dos oráculos do mercado, segundo os quais isso se deveu à divulgação da pesquisa que mostra uma queda na aprovação do governo. Ao mesmo tempo, acontece também que, apesar de ter sofrido uma perda em sua avaliação por parte da agência, a Petrobras vê suas ações valorizadas subitamente.
Por outro lado, anuncia-se que o governo brasileiro conseguiu captar 1 bilhão de euros em bônus da dívida externa, a um custo extremamente baixo – a menor taxa de retorno em euros já registrada. Trata-se de uma demonstração concreta de confiança do mercado externo na economia brasileira, confirmada pela solicitação dos bancos emissores, que queriam aumentar o volume de títulos ofertados. Além disso, registra-se mais um mês com desemprego recorde para o período.
Há uma questão essencial na observação da imprensa que não costuma ser contemplada nos debates dos especialistas: para onde vai o jornalismo durante esses episódios que chamamos de turbilhão?
Com todos os riscos que se corre ao fazer tal afirmação, pode-se dizer que, em ocasiões como esta, a imprensa se desvincula do jornalismo. Sim, por incrível que possa parecer, a imprensa não tem obrigatoriamente uma relação umbilical com o jornalismo. Eventualmente, o interesse da imprensa vai na direção oposta daquilo que seria a boa prática jornalística. O turbilhão define bem esses momentos.
Coincidência ou não, nesta semana completam-se vinte anos do célebre caso da Escola Base. Acusados levianamente de abusar de crianças sob seus cuidados, os donos da escola e o motorista da perua escolar foram crucificados pela imprensa em peso, com exceção do extinto Diário Popular. Passado o furacão, demonstrou-se que eram inocentes, mas era tarde: suas vidas estavam destruídas.
Há uma grande distância entre esse caso e o de empresas, personalidades e governos atingidos pela força insana das notícias negativas. Em geral, instituições poderosas contam com assessorias competentes para administrar essas crises. Acontece que, diante de uma importante disputa eleitoral, os especialistas em comunicação institucional perdem espaço para os marqueteiros de campanha.
E tudo vira comício.

“O GOLPE DE 64 DESTRUIU A MINHA FAMÍLIA”


Aos 73 anos, Maria Thereza Goulart, viúva do ex-presidente João Goulart, revela à revista Istoé detalhes dos dias que antecederam o golpe militar, fala da vida do casal e lembra da angústia dos anos de exílio: "Nós saímos daqui correndo, deixamos tudo para trás. A gente passou a viver com sofrimento"; Maria Thereza se casou com Jango aos 17 anos e foi a primeira-dama mais jovem que o País já teve; após a morte do marido, na Argentina, em 1976, demorou alguns anos para voltar a viver no Brasil e escolheu o Rio de Janeiro, onde ainda mora, perto da família, para passar o resto de seus dias; apesar de tudo, se declara feliz

Brasil 247, em 29 DE MARÇO DE 2014

Primeira-dama mais jovem que o Brasil já teve, eleita entre as 10 mulheres mais bonitas do mundo pela revista "Time" à época, Maria Thereza Goulart, hoje aos 73 anos, traz consigo as marcas do golpe de 1964 que depôs o marido João Goulart. Em entrevista à revista Istoé, no Rio, onde mora, ela quebra o silêncio e relata os momentos de extrema tensão vividos às vésperas da chegada dos militares ao poder. “Para mim foi tudo muito tenso. O golpe de 64 destruiu a minha família. Tivemos que sair correndo, deixar nossa vida, tudo nosso para trás. Destruiu porque tirou tudo da gente. A gente passou a viver com sofrimento”, disse à revista Istoé. Ela lembra que teve de sair às pressas da país com Jango e os dois filhos para o exílio no Uruguai. Muito assediada por jornalistas, Maria Thereza evita a lembrança daqueles dias de terror: "Não gosto de ficar falando das tristezas do passado." Apesar disso, defende os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade. Sobre a exumação do cadáver de Jango, diz que a análise dos restos mortais poderá ajudar a tirar uma dúvida da cabeça. "A gente vai sair desse estado de incerteza, questionamentos, espero – embora ache difícil depois de tantos anos. Fui contra isso durante muito tempo. Não queria porque sabia que seria muito doloroso, como de fato foi. Desabei naquele momento, perto do caixão de Jango de novo."
Confira a entrevista

Eliane Lobato (elianelobato@istoe.com.br)

Viúva do ex-presidente João Goulart (1919/1976), Maria Thereza Goulart tem planos frugais para a segunda-feira 31 de março, data da efeméride dos 50 anos do golpe militar que depôs seu marido: viajará para Porto Alegre (RS) com a filha, Denise, e desfrutará do descanso com a família. Há quase meio século, em 1º de abril de 1964, ela, o marido e os dois filhos tiveram de sair às pressas do País em direção ao Uruguai, onde iriam se exilar. Antes de partirem de Porto Alegre, o então governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola (1922/2004) sugeriu um movimento de resistência ao golpe, mas Jango não consentiu por, entre outras coisas, temer um derramamento de sangue. São momentos tensos que voltam à memória de Maria Thereza, hoje com 73 anos, e provocam tristeza, embora ela lute contra a melancolia que este passado evoca. Arredia a entrevistas, a ex-primeira-dama conversou com ISTOÉ com exclusividade. Contou que escreveu um diário no exílio e que esse material vai virar um livro. Mas só após sua morte. “Antes, não. Acho que há pessoas que não vão gostar. Não tenho coragem de enfrentar isso agora.”
À ISTOÉ, Maria Thereza disse ainda que a famosa foto em que ela aparece ao lado do marido no palanque do histórico comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, não revela seu verdadeiro estado íntimo. A imagem da mulher apontada como uma das dez mais lindas do mundo pela revista “Time” não exprime a apreensão que sentia. “Estava gelada, dura por dentro”, conta. Poucos minutos antes, Jango havia tido queda de pressão. Muitos amigos e correligionários tentaram dissuadi-lo de ir ao comício, mas “ele estava com ideia fixa” e “preparado para o que ia acontecer”, declara ela.
Para a jovem primeira-dama que nunca tinha pisado em um palanque, saber que eles poderiam ser alvo de um atentado a era atemorizante. De fato, houve esse temor, fazendo com que Jango aumentasse o aparato de segurança do evento. Segundo ela, a pouca idade – 24 anos em 64 – ajudou-a a superar as angústias dos momentos que antecederam o golpe. Mesmo assim, desabafou: “Para mim foi tudo muito tenso. O golpe de 64 destruiu a minha família. Tivemos que sair correndo, deixar nossa vida, tudo nosso para trás. Destruiu porque tirou tudo da gente. A gente passou a viver com sofrimento”.
Nascida em São Borja, a quase 500 quilômetros de Porto Alegre, Maria Thereza se casou com Jango aos 17 anos de idade e foi a primeira-dama mais jovem que o País já teve. Após a morte do marido, na Argentina, em 1976, demorou ainda alguns anos para voltar a viver no Brasil e escolheu o Rio de Janeiro, onde ainda mora, perto dos filhos, netos e bisnetos, para passar o resto de seus dias. Apesar de tudo, se declara feliz.
ISTOÉ – Como a sra. vê o País neste momento, 50 anos depois do golpe militar que derrubou seu marido da Presidência?
Maria Thereza Goulart – Sinto, neste momento, o resgate justo da memória do Jango. Isso é mais importante do que o resgate do meu marido. Não espero que ele seja transformado num Deus, não digo que ele tenha sido perfeito. Mas Jango foi um grande patriota, um presidente que amou o País, sobretudo. Pode ter tido seus defeitos, como todos, mas vai ficar guardado na memória com respeito e dignidade.
ISTOÉ – Como a sra. recorda de seu papel naquele momento?
Maria Thereza – Minha presença ao lado dele foi importante, procurei ser companheira. Nunca fui muito política. Vivemos momentos muito assustadores. Meu marido já tinha previsto o futuro, quando saímos para o exílio. Jango já estava marcado pelo golpe. Mas eu até pensei que voltaríamos. Jango estava preparado, achou que era o momento de ele renunciar. Mas, para mim, foi tudo muito tenso. Acho que a minha pouca idade até ajudou a ter forças para viver aquilo. O golpe de 64 destruiu a minha família. Nós saímos daqui correndo, deixamos nossa vida, tudo nosso para trás. O golpe tirou tudo da gente. A gente passou a viver com sofrimento.
ISTOÉ – A sra. não gosta de falar sobre isso?
Maria Thereza – Sou permanentemente convidada para dar entrevistas, participar de eventos, mas te digo, sinceramente, não gosto, evito. Primeiro porque fico triste. Não gosto de ficar falando das tristezas do passado. Segundo porque pensar em tudo o que poderia ter acontecido de pior ainda me assusta. Ajudei a criar meus oito netos, tenho meus dois filhos amados... A vida foi continuando.
ISTOÉ – Depois do golpe, a sra. sabia que iria para o Uruguai e imaginava que viveria lá por tanto tempo?
Maria Thereza – O desterro foi muito cruel, especialmente para o Jango. Mas eu não sabia, com antecedência, o nosso destino. Quando saímos, com as duas crianças, é que me disseram que eu ia morar no Uruguai. Não sabia de nada até então.
ISTOÉ – Como era a vida no exílio?
Maria Thereza – Era difícil porque estávamos longe de todos os que amávamos, das nossas coisas. Eu sentia medo do que pudesse nos acontecer lá. Jango sofria calado, não era de ficar reclamando, fraquejando. Perdi meu pai e minha mãe no Brasil e não pude chegar perto. Era muita tensão, Jango sabia de tudo o que estava acontecendo no Brasil, dos horrores todos. O medo tornou-se um grande inimigo capaz de me confundir entre o ódio e o perdão.
ISTOÉ – A foto da sra. no palanque do comício na Central do Brasil, no dia 13 de março de 1964, mostra uma mulher extremamente bonita e passa a imagem de força, segurança. A sra. se sentia assim?
Maria Thereza – Essa imagem é, na verdade, de apreensão extrema. A foto não mostra tudo. Eu estava com muito medo. Estava gelada, dura por dentro. Nos disseram que poderiam ser jogadas bombas no palanque, no meio das pessoas. Jango teve uma queda de pressão antes, estava muito tenso. Tínhamos noção do que poderia acontecer ali. Mas ele estava firme, preparado. Disseram para ele não fazer aquele comício, mas não adiantavam os conselhos. Ele estava com ideia fixa, estava realmente preparado para o que pudesse acontecer.
ISTOÉ – A sra. subiu em palanque alguma outra vez na vida, além dessa?
Maria Thereza – Nunca mais. Nem antes eu tinha vivido isso. Só subi em palanque naquele comício da Central.
ISTOÉ – Por marcar meio século do golpe militar, este ano a data de 31 de março será diferente para a sra.? Onde pretende passar o dia e o que pretende fazer?
Maria Thereza – Vou para Porto Alegre com minha filha, Denise. Vamos participar de um evento lá. É difícil para mim, porque me emociono. Mas vou, acho que devo e que estou preparada. E só. O resto, será comigo mesma e minha família.
ISTOÉ – No ano passado teve início a exumação do cadáver de Jango. Qual é a sua expectativa do resultado das análises?
Maria Thereza – Poderá nos ajudar a tirar essa dúvida da cabeça. A gente vai sair desse estado de incerteza, questionamentos, espero – embora ache difícil depois de tantos anos. Fui contra isso durante muito tempo. Não queria porque sabia que seria muito doloroso, como de fato foi. Desabei naquele momento, perto do caixão de Jango de novo. Eu sempre achei que ele tinha morrido de infarto. Mas tantas dúvidas foram sendo levantadas, tanta polêmica... Hoje, acho possível, sim, que tenham envenenado algum dos remédios que ele tomava para o coração. Pode ter havido troca do remédio, sim.
ISTOÉ – A sra. acha importantes esses movimentos em busca de um passado? O que pensa do trabalho da Comissão Nacional da Verdade?
Maria Thereza – Muito importante. As pessoas precisam saber o que aconteceu, que fim tiveram os que desapareceram. Vivemos um momento muito importante. Essas medidas já deveriam ter sido tomadas, mas não foram antes dos governos do Lula e da Dilma. A iniciativa foi deles. Ninguém antes foi capaz de tomar uma atitude dessas. Fiquei arrasada com os depoimentos desse militar (coronel Paulo Malhães) que disse as coisas horríveis que faziam com quem lutava contra o regime. Como uma pessoa ainda tem coragem de contar? Mas é importante a gente saber, sim. Mesmo com todo o sofrimento que provoque, especialmente para os familiares.
ISTOÉ – Quando pensa sobre o passado, o que prevalece nas lembranças?
Maria Thereza – A certeza de que fui casada com um homem maravilhoso, que tive uma vida maravilhosa até acontecer o golpe. Sou a mesma pessoa simples. Minha vida mudou muito, mas eu não mudei. O grande mérito, acho, foi ter entendido que o que aconteceu no passado faz parte do passado. Me acho meio provinciana até hoje. Vou a São Borja, onde nasci. Me reencontro comigo lá.
ISTOÉ – Não pretende contar sua história em livro?
Maria Thereza – Olha, vou contar: comecei um diário quando estava no exílio, que vai virar um livro um dia, quando eu não estiver mais aqui neste mundo. Escrevi muitas partes em espanhol. Falo de tudo o que aconteceu, conto tudo. Pedi à minha família para só publicar quando eu não mais estiver aqui, porque pode ser que algumas pessoas não gostem, não tenho muita coragem de enfrentar isso.
ISTOÉ – Recentemente, tentaram reeditar a Marcha da Família com Deus, a exemplo do ocorrido em 1964. O que achou?
Maria Thereza – Ainda tem gente que tem coragem de fazer isso?! Ainda tem tempo? Me disseram que foi um fiasco horrível. Imagino que tenha sido mesmo.
ISTOÉ – Como foi a convivência com o poder?
Maria Thereza – No início foi muito difícil me adaptar. Mas, como ele era vice-presidente, fui aprendendo e contei com a ajuda de pessoas como a dona Risoleta (mulher de Tancredo Neves, político) e Iara Vargas (política e sobrinha do presidente Getúlio Vargas). Elas me orientavam muito, em tudo. Fizemos, eu e Jango, uma viagem belíssima para os Estados Unidos, a convite de (Richard) Nixon (presidente americano). Foi uma vida de glamour, mas eu sabia que tinha que manter os pés no chão, que não podia me deslumbrar para não me perder no meio daquilo. De certa forma, eu já tinha uma relação com o poder de longe porque minha tia era casada com um irmão de Getúlio (Vargas), frequentava o palácio. Olha, o que posso dizer é que o poder chega e passa.
ISTOÉ – Como foi depois da morte de Jango?
Maria Thereza – Meus dois filhos são meus dois grandes amigos, companheiros. Fui avó cedo, com 37 anos. Meu neto, o Cris (Christopher), é uma grande paixão, e me ajudou muito. Ele é o que mais gosta de política.
ISTOÉ – Como é a sua vida no Rio?
Maria Thereza – Gosto muito de viver no Rio. Sou andarilha, faço caminhadas na praia, ginástica, estou sempre em movimento. Quase nem assisto televisão. Estou agora na fase do check up anual, me cuido. E estou preparando uma festa para uma afilhada, filha de uma ex-empregada que é amiga, na Baixada Fluminense, onde ela mora. Serei madrinha de batismo e, por isso, estou fazendo um curso preparatório. A festa será lá, onde vou sempre. Aliás, meu médico veio de Cuba e trabalha lá na Baixada: é o João Marcelo (Goulart, neto). É um grande médico, tenho muito orgulho dele e de todos os outros netos também. Minha família é a minha segurança, meu apoio, alegria.
ISTOÉ – A sra. é vaidosa? Já fez plástica?
Maria Thereza – Sim, mas sem exageros. Mantenho os 46 quilos que tinha quando casei. Mas não me privo de comer coisas de que gosto para manter o corpo. Como tudo o que tenho vontade, até sanduíche. Fiz uma plástica, um minilifting. E estou querendo fazer outra.
ISTOÉ – O Jango era um homem bonito e assediado pelas mulheres, não é? Tinha ciúmes?
Maria Thereza – Não tinha ciúmes. Ele sempre disse: nunca vou deixar de voltar para casa. Mas tinha uma vida fora de casa – e, aliás, vou dizer: isso era muito bom, se ficasse muito tempo não ia dar certo. Casamento é assim. Dentro de casa, Jango era um doce de pessoa, adorava os filhos, era uma festa quando ele chegava. Era um pai maravilhoso
ISTOÉ – A sra. ouvia falar que ele tinha casos extraconjugais?
Maria Thereza – Tinha conhecimento, sim. Mas as pessoas falavam mais do que acontecia. Ele tinha alguns casos, todos os políticos tinham, e muitos ainda têm. Mas ele sempre voltava para casa. Jango era perseguido político e na vida íntima. Diziam que ele tinha várias mulheres. Não eram tantas. Ele gostava, não vou dizer que não. Quando ele era solteiro, sabia que tinha algumas em Porto Alegre, mas eu nunca vi. Falavam de uma moça no Uruguai. Nós morávamos em Punta del Este, eu sabia que tinha essa pessoa, mas nunca vi essa criatura que diziam que o acompanhava a lugares. Nossa vida não foi alterada por causa disso. Mas hoje inventam, publicam falsidades, fartam-se com mentiras que vendem. Falar mal de pessoas, especialmente as que não estão mais aqui para se defender, é muito sério. Tenho horror disso. Infelizmente, vão muito além da verdade e criam fantasias.
ISTOÉ – Falavam da sra. também, não é?
Maria Thereza – Sim. Me arrumaram tantos casos aqui no Brasil... Mas quando eu poderia ter algum caso se vivia cercada por seguranças? Nunca aconteceu nada disso.
ISTOÉ – A sra. não quis se casar novamente?
Maria Thereza – Não. Tive uns três relacionamentos mais sérios, mas acabaram não dando certo. Acho que tudo ficou muito marcado na minha vida, não consegui. Namorei um gaúcho bem mais jovem, e também gostei muito de um canadense, de um banco do Canadá. Mas não consegui. Tudo bem. Tenho uma família maravilhosa, amizades verdadeiras, sou feliz. Sou a Tetê de sempre.
ISTOÉ – O Jango também a chamava de Tetê?
Maria Thereza – Não. Ele me apelidou de Teca. Só ele me chamava assim. Tenho uma foto dele, quando ainda era ministro do Trabalho e namorávamos, com a dedicatória: “Para Teca, com carinho, Jango.”

sexta-feira, 28 de março de 2014

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE CAMAQUÃ DIVULGA RELAÇÃO DE SELECIONADOS PARA CONTRATOS TEMPORÁRIOS




Marco Longaray, em 28/03/2014

A SME de Camaquã apresentou nesta quinta-feira 27, a lista com os nomes de serviçais selecionados para contratação temporária pelo período de seis meses. Também foi apresentada a relação de documentos, comprovantes e informações necessárias para a contratação. Os selecionados devem se apresentar no Setor Pessoal da Prefeitura, onde receberão orientação referente ao local de trabalho, definido pela Secretaria de Educação.
É provável que ocorram algumas desistências, dentre os selecionados, abrindo chances para outras pessoas, mas a SME não apresentou relação de suplentes, por enquanto.


1 - Adan Matheus Rosa Farias
2 - Ana Carla de Azevedo
3 - Ana Paula Finkenauer da Silva
4 - Ana Paula Queiróz
5 - Angela Maria S Oliveira
6 - Angela Soleda Fonseca Tavares
7 - Anita Braatz Otto
8 - Berenice Ribeiro Vicente
9 - Carlozi Duarte Rodrigues
10 - Celia Maria Schuch Ventura
11 - Charlise Rodrigues Rosales
12 - Cleuza Maria Soares de Moraes
13 - Cristiane Almeida Voigt
14 - Daiane Gonçalves Marques
15 - Daniela Kock Longaray
16 - Dejanira da Cruz Marins
17 - Denise Camargo Tavares
18 - Denise Martins Milbrath
19 - Diane da Silva Rodrigues
20 - Emerson Luís Jacobsen da Rocha
21 - Felipe Pereira da Silva
22 - Fluviana Bergmann Dalbem
23 - Franciele Rackow Carlos
24 - Gerceli da Silva Nunes
25 - Helia Boeira da Silva
26 - Janice Alexandre Silva
27 - Jaqueline Spiering N. Garcia
28 - Jociane Scherer Paim
29 - Joice Vasconcelos da Costa
30 - José Clóvis Neumann Silva
31 - Joselaine Tavares da Silva
32 - Leomar da Silva Nunes
33 - Lilian Suzana Silva da Silva
34 - Lisiane de Lima Nunes
35 - Mara Simone Bender
36 - Margarida Venzke da Silva
37 - Maria Celoi Lima Sodré Cardoso
38 - Marinelma Costa Ribeiro
39 - Mariza Souza Dorneles
40 - Marlene Lauffer
41 - Marli Claro
42 - Meri Terezinha Cardoso Santos Silva
43 - Neusa Jacobsen Westphal
44 - Neuza Terezinha Wiatroski
45 - Noemi Rocha Braatz
46 - Onilda Ventura
47 - Pedro Paulo Santos Silva
48 - Rosana Nunes Rodrigues
49 - Ruth Mahl Rosales
50 - Sandra Santos Silva
51 - Schirlei Fernanda V. Fernandes
52 - Simone Westphal Rodrigues
53 - Selma de Souza Seixas Peter
54 - Vanessa Martins Dorneles
55 - Vera Regina Martins
56 - Vera Regina Rohjan Bierhals
57 - Virginia dos Santos Shimieski
58 - Vladimir Pinto Bonato
59 - Zeldo Milbrath Marth
60 - Zoila Maria Kennes


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"Se a mulher se comportasse haveria menos estupros"

Estudo do Ipea mostra que a população não tolera violência doméstica, mas aceita discurso de que a vítima é quem provoca a agressão

Abertura da Campanha de Enfrentamento da Violência contra a Mulher, em Porto Alegre

Carta Capital, por Matheus Pichonelli — publicado 27/03/2014 
“Se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros”. “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. “Tem mulher que é pra casar, tem mulher que é pra cama”. “Em briga de marido e mulher não se mete a colher”.
Frases como essa são aceitas, parcial ou totalmente, pela maioria dos brasileiros em pleno 2014. A conclusão, divulgada nesta quinta-feira 27, faz parte de uma pesquisa sobre tolerância social à violência contra mulheres realizada com 3.810 pessoas pelo Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Segundo o mesmo estudo, cerca de um terço dos brasileiros aceita, total ou parcialmente, ideias como a de que a mulher casada deve satisfazer o marido na cama, mesmo sem vontade (27%).
O resultado mostra alguns pontos aparentemente contraditórios no discurso sobre violência doméstica no Brasil. Por exemplo: a grande maioria dos entrevistados (78%) concorda "totalmente" com a prisão de maridos que batem em suas mulheres e refuta a ideia de que a violência é apenas uma manifestação da natureza masculina (75%).
O paradoxo, segundo os pesquisadores, é apenas aparente. A começar pela dificuldade em desmascarar os perigos de considerar essas agressões uma questão privada a ser resolvida na intimidade dos lares. Para 82% dos entrevistados, o que acontece com o casal em casa não interessa aos outros – portanto, tem menos possibilidades de ser verbalizado e tratado como crime. É aí que mora o perigo.
No discurso, o brasileiro tende a condenar veementemente a violência, física ou psicológica, mas ainda tem dificuldades em dissociar essa violência de um conjunto de normas socialmente aceitas. Essa dificuldade se revela sobretudo quando o tema é violência sexual. A diferença de postura de tolerância/intolerância à violência doméstica e à violência sexual, dizem os pesquisadores, reafirma a dificuldade de se estabelecer no Brasil uma agenda de direitos sexuais.
“Por maiores que tenham sido as transformações sociais nas últimas décadas, com as mulheres ocupando os espaços públicos, o ordenamento patriarcal permanece muito presente em nossa cultura e é cotidianamente reforçado na desvalorização de todas as características ligadas ao feminino, na violência doméstica, na aceitação da violência sexual”, conclui o estudo. "Causa espanto observar que 65% das pessoas que responderam à pesquisa concordam com a afirmação, nem um pouco sutil, de que 'mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas.'"
Segundo os pesquisadores, a culpabilização da mulher pela violência sexual fica evidente quando, por exemplo, 58% dos entrevistados dizem concordar "totalmente" com a afirmação de que ela só é vítima de agressão sexual por não se comportar de maneira adequada. “Por trás da afirmação está a noção de que os homens não conseguem controlar seus apetites sexuais; então, as mulheres, que os provocam, é que deveriam saber se comportar, e não os estupradores. A violência parece surgir como uma correção: ela merece e deve ser estuprada para aprender a se comportar. O acesso dos homens aos corpos das mulheres é livre se elas não impuserem barreiras, como se comportar e se vestir ‘adequadamente’”.
Toda mulher quer se casar. Esse retrato não surge do nada. Tem como base a aceitação de um modelo que coloca o homem  omo “referência” em todos os espaços sociais. Nesse modelo, são os homens que detêm o poder público e o mando sobre o espaço doméstico - e sobre os corpos e vontades das mulheres.
Essa ideia fica evidente, por exemplo, quando 64% dos entrevistados dizem que “os homens devem ser a cabeça do lar” ou quando 79% afirmam que “toda mulher sonha em casar”.
Parecem frases inofensivas, mas não são. Por trás das afirmações, apontam os pesquisadores, está a ideia de que a mulher somente pode encontrar a plenitude em uma relação estável com um homem – ou que deve ser recatada sem almejar uma vida de solteira com muitos parceiros. Essa ideia, segundo o estudo, tem influência marcante da religião: católicos têm chances 1,5 vez maior de concordar com a afirmação de que toda mulher sonha em casar, e os evangélicos, 1,8. O índice cai, no entanto, entre grupos mais escolarizados. “Aqueles que consideram o homem como 'cabeça do lar' têm propensão maior a achar que a mulher é responsável pela violência sexual”, escrevem os autores.
Há uma tendência, no entanto, de discordar da ideia de que a mulher deve satisfazer as vontades do marido – o índice dos que refutam essa ideia (65%) é maior do que o de quem a aceita total ou parcialmente (41%). “Essa afirmação coloca subliminarmente a delicada questão do estupro no âmbito do casamento, um tabu resultante do confronto entre os comportamentos e desejos sexuais femininos e masculinos.”
A conclusão dos pesquisadores é que, de maneira geral, há hoje uma dificuldade em admitir posturas mais toleráveis à violência de gênero. "Resta saber se as práticas também seguem esse movimento, e os indícios parecem apontar que não."