AS RAZÕES DA OPINIÃO PÚBLICA
QUERER MUDANÇA COM DILMA

Significa que está mantida a mesma
tendência das últimas pesquisas: o eleitor quer mudanças, mas com Dilma
Rousseff.
Daí volto à questão do fim do ciclo.
No último artigo que escrevi sobre o
tema, alguns de vocês julgaram que afirmei que esgotaram-se as políticas de
inclusão social. Longe disso. O que procurei mostrar é que essas políticas são
irreversíveis, transitaram em julgado, jogaram o país em um novo patamar de
cidadania. Mas mudaram radicalmente a cara do país. Depois da inclusão o país é
outro, exigindo novas políticas.
Na etapa anterior havia multidões de
desassistidos cuja única demanda era a de recursos para comer e, garantida a
subsistência, tornar-se um consumidor. Podia-se olhá-los de cima.
O novo cidadão que emerge não tem
nenhuma semelhança com o anterior. Descobriu o consumo, a cidadania, a
reivindicação, a possibilidade de crescer. Tem que ser olhado de frente.
O cidadão pré-inclusão era passivo,
recebia a benesse e tornava-se grato; depois da inclusão, é cobrador de
direitos.
Na etapa de inclusão, houve
ferramentas eficientes e um conjunto de políticas sociais
articuladas criadas sob o signo do assistencialismo: Bolsa Família, a
coordenação dos diversos ministérios em torno do Ministério do Desenvolvimento
Social, as políticas integradas de melhoria do salário mínimo e dos benefícios
de prestação continuada, as políticas compensatórias para minorias sociais de
todos os níveis.
Foram esboçadas, também, organizações
destinadas a aprofundar a participação geral nas políticas públicas, do CDES
(Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), às diversas secretarias de
inclusão social e ao esboço de conselhos de participação empresarial além da
nova dimensão conferia às Conferências Nacionais. Estavam dadas, aí, as
sementes para a nova etapa, que exigiria o aprofundamento de várias dessas
formas de participação.
O governo Dilma significou um retrocesso
quando abriu mão desses instrumentos de participação. Foi desoladora a maneira
como desconsiderou as conclusões das Conferências de Educação para satisfazer
as pretensões paroquias de sua Ministra-Chefe da Casa Civil, Gleise Hoffmann, e
da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário. E também o esvaziamento do
CDES e dos conselhos empresariais.
Esse fenômeno ocorre no mesmo momento
em que o mundo é sacudido pelos ventos da cidadania e da participação através
das redes sociais e em que ocorre um esgarçamento rápido da autoridade –
entendido aí presidências da República, poder judiciário, poder legislativo,
mídia, sindicatos etc.
As pernas do novo ciclo
O novo ciclo tem duas pernas
umbilicalmente ligadas. No plano social, a cobrança cada vez maior de melhoria
dos serviços públicos, reivindicação crescente de participação nas decisões
públicas. A segunda perna é da definição de um modelo de desenvolvimento que
permita compatibilizar as políticas distributivistas com o desenvolvimento
econômico.
O governo Dilma tem problemas de
implementação de programas, sim; e tem problemas sérios decorrentes da completa
despolitização, do uso exclusivo da bandeira do gerencialismo de gabinete - que
atropela até os conceitos da boa gerência.
Mas tem visão de futuro muito mais
apurada que os seus competidores.
A ênfase na infraestrutura, nas
parcerias público-privadas, na inovação, nas políticas setoriais, o uso do
pré-sal para políticas públicas, o aprofundamento da inclusão, atacando os
últimos bolsões de miséria absoluta, a criação de um ambiente econômico civilizado,
nas pernas de juros e câmbio, são princípios definidores da nova etapa.
E a oposição?
Ontem, Eduardo Campos e Aécio Neves
bateram na tecla do fim de ciclo e início de novos tempos. Mas o que propõem?
Seu discurso é pré-inclusão e suas propostas não avançam além do gerencialismo
puro e simples, da visão estática de um PIB (Produto Interno Bruto) descolada
da condição dos cidadãos ou do próprio ambiente econômico, de um fiscalismo
despregado da visão estratégica de país. No campo econômico, não conseguiram se
libertar de um neoliberalismo que já morreu com a crise de 2008 e apenas não
foi enterrado.
Mais do que tudo, é o que explica
essa sensação de mudança com Dilma.
Esta semana tive oportunidade de
conferir esse sentimento em uma palestra para os revendedores de uma empresa de
maquinário de limpeza.
O público era fundamentalmente
conservador e anti-petista.
Depois da palestra, seguiu-se um
debate aceso sobre as condições do país, a segurança, saúde, educação,
corrupção etc. O sentimento anti-petista é nítido, assim como o sentimento
pessimista em relação ao país – revelando dois pontos em que a campanha
midiática é eficiente.
Mas a campanha do anti não chegou a
Dilma. Consideram o PT como o grande obstáculo à Dilma. O discurso de ameaça às
instituições não pega mais, o da corrupção sim. No caso, de Dilma, o pecado
menor da teimosia. Mas há a sensação – muito mais nítida do que em outros
tempos – que a corrupção é um problema inerente ao modelo político brasileiro.
Para aquele público, a oposição é inexistente.
O discurso de Eduardo Campos e Aécio Neves passa a léguas de distância daquele
que deveria ser seu público preferencial.
Dilma chega às eleições dependendo
apenas dos seus pontos para vencer o campeonato. Basta entender que o país não
precisa de um presidente gerente, mas de um presidente político que saiba
articular os diversos setores do país, disponha de tempo para compreender o
novo e tenha, debaixo de si, gerentes eficientes, que transformem as propostas
em planos factíveis.
A chegada de Aloizio Mercadante à
Casa Civil, acompanhado de um grupo de economistas de boa formação, é um
alento, um sopro de racionalidade. Participar de um campeonato nacional tendo
Guido Mantega como centro-avante seria definitivamente o cúmulo da teimosia.
Luis Nassif, em 22/02/2014
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