Analistas veem ‘cálculo eleitoral’ e ‘afinidade ideológica’ em encontro de Dilma com papa
A presidente Dilma Rousseff terá uma audiência privada no Vaticano nesta
sexta-feira, 21.2.14, com o papa Francisco, que analistas ouvidos pela BBC veem
como uma ação "de olho no eleitorado", além do natural aspecto
religioso do encontro.
Trata-se do terceiro encontro de Dilma com o pontífice em menos de um
ano, o que poderia também ser visto como um sinal de que a presidente estaria
investindo em uma aproximação ou algum tipo de relação especial com o líder da
Igreja Católica.
Os especialistas consultados pela BBC Brasil não acreditam que haja uma
estratégia planejada neste sentido, mas reconhecem benefícios importantes para
o governo de uma associação com a imagem e a ideologia de Jorge Bergoglio - nas
palavras de Fleischer, "um papa proativo, um papa ativista que se envolve
em questões sociais" e que tem notadamente conquistado popularidade em
vários cantos do mundo.
O sociólogo britânico Paul Freston, que pesquisou a religião no Brasil e
leciona nas áreas de sociologia da religião, religião e globalização, e
religião e política na Wilfrid Laurier University no Canadá, diz achar
"natural que um presidente do PT queira ganhar algum reforço ao tentar
consolidar um pouco o voto católico" e que "o cálculo eleitoral está
presente de alguma forma" no encontro de sexta-feira.
"As posições que ele tem tomado na área econômica são simpáticas ao
partido de Dilma", diz Freston, citando temas abordados com contundência -
até então incomuns em um líder da Igreja Católica – pelo papa Francisco, como
"a crise econômica global, desigualdade social, imigração na Europa e o
peso moral da riqueza".
Para Rafael Cortez, com uma agenda marcada por "tolerância e
pluralidade" e declarações inesperadas indicando uma igreja "mais
aberta, antenada" e "tolerante em relação a seus paradigmas",
Francisco consolidou uma imagem de "moderação boa para um político".
Um representante do Planalto disse à BBC Brasil que, de fato, "há
uma grande afinidade de posições" entre os dois líderes, e que as
"prioridades na área social humanitária" demonstradas desde o início
da gestão papal "coincidem com muitas prioridades do Brasil, entre elas o
combate à pobreza e o fim das discriminações".
Mas o representante disse que o pedido por uma audiência com o papa se
deu "por duas razões: para agradecer e retribuir a visita ao Brasil no
Encontro Mundial da Juventude (no Rio, em junho de 2013), e para prestigiar a
escolha de um novo cardeal brasileiro (o arcebispo do Rio de Janeiro Dom Orani
Tempesta, que receberá a nomeação no sábado, no primeiro dia do Consistório
para a Criação de Novos Cardeais)".
Dilma chega a Roma por volta do meio dia (hora local, 08h00 em Brasília)
e deve se encontrar com o papa à tarde. No sábado pela manhã ela acompanha o
Consistório que "criará" o cardeal Dom Orani Tempesta e no domingo
ela segue para Bruxelas, onde participa da sétima Cúpula Brasil-União Europeia.
Thomas Pappon Enviado especial da BBC Brasil a Roma
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