Bachelet foi eleita no domingo com mais de 60% dos votos |
Eleita novamente presidente do Chile no último domingo (15), a
socialista Michelle Bachelet superou com folga a candidata governista,
Evelyn Matthei, e o temor de que os altos índices de abstenção
prejudicassem o resultado. À frente do La Moneda entre 2006 e 2010,
Bachelet terá de aprofundar as prometidas “reformas estruturais” no seu
segundo mandato. A sua eleição representa, também, a possibilidade da
reaproximação do país com a América Latina.
Rebatizada de “Nueva Mayoría”, a antiga “Concertación”, que governou o
país por vinte anos e aparece agora modificada, será cobrada por
movimentos sociais, estudantes e por muitos dos seus eleitores para
reformular boa parte da estrutura do Estado – principalmente no que diz
respeito à saúde e à educação. “Até hoje o Chile vive sob as leis da
ditadura. Pouca coisa foi modificada, e enfrentar este tema é um grande
desafio para o novo governo”, afirma o economista e professor Luiz
Augusto Faria.
Durante a campanha, Lula visitou Bachelet em Santiago |
Durante a campanha, houve forte movimentação pela criação de uma
Assembleia Constituinte durante o próximo governo. Pesquisas estimam que
em algumas comunas mais de 10% dos eleitores deixaram escrita a
mensagem “AC” – que representa a reforma constitucional – nas cédulas de
votação. “Um sinal positivo é que Bachelet fala em tocar em alguns dos
pilares da política pinochetista, que são a saúde e a educação
privadas”, aponta o economista.
A eleição de novos quadros políticos, parte deles oriundos do
movimento estudantil, poderá fazer com que exista uma forte pressão à
esquerda também no poder Legislativo. Nas ruas, é provável que as
manifestações continuem exigentes como foram durante a gestão de
Sebastián Piñera. A impopularidade do atual presidente acabou refletida
na candidata da situação no pleito de 2013. Matthei conseguiu levar a
disputa para o segundo turno por poucos votos, mas em nenhum momento deu
mostras de que poderia pleitear a primeira colocação.
Além das reformas, o Chile poderá ter modificações na sua política
externa. O novo governo poderá reaproximar o país dos vínculos com a
América Latina a partir da Unasul – que já teve a própria Michelle
Bachelet como presidente. Com Piñera, os olhos de La Moneda estavam mais
voltados para o norte. “O resultado da eleição é importante para a
consolidação da Unasul e para a participação do Chile, que com Bachelet
teve protagonismo na mediação de conflitos pelo continente”, analisa
Luiz Augusto Faria.
O economista afirma que do ponto de vista comercial ainda são
incipientes as relações comerciais entre o Brasil e o país andino. “O
comércio entre os dois países ainda é muito pequeno. O que poderia
acontecer é o Chile importar mais produtos industriais brasileiros, quem
sabe. Mas a maior importância deste processo é política, não
econômica”, opina. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em visita a
Santiago no mês de novembro, apoiou publicamente a socialista e falou
em “fortalecer a integração latino-americana” nos próximos períodos.
Os desafios de Bachelet não serão pequenos. A socialista espera
realizar uma grande reforma educacional, construir novas universidades
públicas, modificar o atual sistema de saúde, erguer hospitais pelo país
e ainda instituir o Ministério da Mulher. “O Chile passou por uma
renovação bastante grande nos quadros políticos do Congresso. Novas
lideranças vão entrar no lugar de políticos viciados no compromisso com a
direita mais anacrônica, e com isso Michelle Bachelet não pôde contar
no seu primeiro mandato”, aponta Luiz Augusto Faria.
Fonte: Sul21
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