Por Lula Miranda
Fiz a mim mesmo essa
indagação ao ler, aqui no Brasil 247, frase atribuída ao presidente do
PSB paulista: “somos moralmente de partidos diferentes”. O deputado
Márcio França referia-se ao seu partido, à Rede Sustentabilidade e a
Marina Silva, que, supostamente, estaria atrelando sua candidatura à
vice na chapa capitaneada por Eduardo Campos, que concorrerá à eleição
presidencial desse ano, ao fato do PSB de São Paulo não apoiar a
reeleição de Geraldo Alckmin, e sim lançar candidato próprio ao governo
do estado
.
A frase é
autoexplicativa, além de antológica. Mas o que França parece querer nos
dizer é que ele é moralmente diferente de Marina. Melhor, que são de
partidos “moralmente diferentes”. Mas qual a moral de França e/ou do
“seu” PSB? Qual a moral de Marina e/ou da “sua” Rede? Os partidos –
inclusive a promissora Rede – e os políticos, por acaso, têm alguma
moral, nem que seja mínima? Têm algum ideário e coerência? Não seria
esse suposto debate apenas uma falsa polêmica ou um joguete de amorais
(ou imorais) para confundir e seduzir o leitor? Ou é mesmo um debate
para valer?
Sabemos que o PSB em São
Paulo, assim como o PPS, é uma espécie de “partido de aluguel” do PSDB. O
PSB de SP não tem nada de “esquerdista” ou de socialista. Haja vista,
estar aliado com a banda mais direitista do tucanato, representada pelo
governo Alckmin. França e, portanto, “seu” PSB integra e é
partícipe/cúmplice do (des)governo hoje encastelado no Bandeirantes. E
por essa postura deverá, certamente, responder na próxima eleição.
Portanto, ao que tudo nos
faz crer, o PSB de SP não guarda nenhuma semelhança com o antigo PSB do
Ceará, dos irmãos Ciro e Cid Gomes, por exemplo. Mas e com relação aos
“socialistas” de Pernambuco?
Pode-se ainda indagar:
qual a moral de Eduardo Campos? Que disse, recentemente, em seu estado,
que a “aliança com tucanos é a nova política”. Com assim “nova
política”?! Em Pernambuco, mas não em São Paulo – é isso? Que ideário é
esse?! Que lógica é essa?! Que moral é essa?! Teria a política se
transformado num deserto moral? Ou, na política, experimentamos uma
inexpugnável “moral de circunstâncias”?
Mas que política é essa,
hoje praticada, de modo despudorado, à luz do dia? Inóspita, amoral e
desértica? Pragmática? Política com “p” minúsculo ou “P” maiúsculo?
Ou o PSDB de Pernambuco
não é o mesmo de SP? Assim como o PSB paulista não foi, algum dia, o
mesmo do cearense. Ou o PP de Maluf não seria o mesmo de Dorneles?
Marina teria razão, se
estiver sendo sincera, se estiver “marcando posição” para valer em não
aceitar de fato essa composição. Mas desconfio que Marina apenas jogue
para a arquibancada; faz mais uma jogada de marketing, ensaiada, com o
intuito de encantar a sua torcida, a dos seus correligionários da Rede
Sustentabilidade, e angariar também a simpatia de eleitores já bastante
acabrunhados com a política.
Ou talvez, quem sabe,
ainda deseje manter uma suposta mácula e fama de “virgem” ao ingressar
no “baixo meretrício” da real politica.
Sim pode ser isso.
Marina, por outro lado, pode estar apenas, simples e preventivamente,
tomando a sua dose peculiar de “vacina”, para depois adentrar, sem
pudores, com insuspeitada desenvoltura, a inóspita, pois insalubre,
selva pantanosa da política brasileira – a despeito e à revelia do
pretenso purismo de um suposto ideário alardeado pela “virgem” Rede
Sustentabilidade.
Afinal, podem ponderar
alguns, Dilma e o PT não estariam também associados ao PP, ao PTB e
outros partidos e políticos deploravelmente conservadores? Dilma e o PT
não estariam também mancomunados com Renan, Sarney, Collor et caterva?
Kassab não era “cupincha”
de Serra? Sim, mas agora apoia Dilma. O PP, que apoia Dilma no âmbito
federal, não é o mesmo de Maluf, que apoia Alckmin no estado e o petista
Haddad no município? O PTB está “fechado” com Alkmin em SP e “aberto”
com Dilma no governo federal? Isso tudo não pode parecer confuso ao
eleitor comum? Seria promiscuidade e oportunismo; ou pragmatismo e
governabilidade?
- What a fuck is this?! – exclama o brasilianista que mora aqui ao lado.
Bem, se a moral em política não existe então estaria tudo permitido?
Vale tudo?
Não é bem assim.
Tal qual nos bordeis, com
seu carpete cheirando a mofo e eucalipto (e na sociedade como um todo),
não existem “virgens imaculadas” na política: só tem “puta velha” – com
o perdão do uso da linguagem coloquial/chula, por vezes mais apropriada
ou inevitável.
O que o eleitor deverá
verificar, no momento do voto (mas não só nesses momentos), é com qual
agenda e princípios os políticos, e os partidos, estão comprometidos. E
se estão comprometidos de fato com alguma coisa.
Se compromissados com uma
agenda progressista, hoje nas mãos e presente no ideário dos petistas –
e dos demais partidos de esquerda. Ou comprometidos, em que pese os
disfarces, camuflagens e maquiagens, com uma agenda conservadora,
privatista e patrimonialistas, associada aos tucanos paulistas e a seus
partidos associados.
Fonte: Brasil 24/7
Fonte: Brasil 24/7
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