Para o secretário-executivo da CGU, Carlos Higino, a Lei Anticorrupção brasileira é das mais progressista |
A Lei Anticorrupção sancionada ano passado pela presidenta Dilma
Rousseff (PT) passa a valer no dia 29 de janeiro e inaugura uma nova
etapa no combate a esse tipo de crime, com punições mais duras às
empresas corruptoras. Pela primeira vez são estabelecidas sanções claras
às pessoas jurídicas e não apenas aos funcionários do setor privado que
se envolvem em caso de desvios com agentes públicos.
A lei estabelece multa de até 20% a empresas condenadas na Justiça
por evasão de divisas, sonegação de impostos ou envolvimento em esquemas
de corrupção. Nos casos mais graves, pode levar à proibição de celebrar
contratos públicos ou receber financiamento de estatais e até ao
fechamento compulsório. As punições vão valer inclusive para empresas
que praticarem corrupção fora do Brasil.
“A lógica da lei é inteligentíssima, porque aumenta os custos da
corrupção”, elogia o secretário-executivo da Controladoria-Geral da
União, Carlos Higino.
“Antes, as empresas faziam as contas para avaliar se valia ou não a
pena o pagamento de propina, por exemplo. Na maior parte das vezes, se a
empresa deixava de pagar um tributo e fosse pega, só tinha de pagar a
taxa com alguma multa. Ou seja, os riscos eram baixos. A partir de
agora, o risco e o custo são muito maiores”, completa.
Segundo Higino, o trabalho de fiscalização da CGU não mudará com a
nova legislação, mas a população deverá ver mais resultados das ações de
combate à corrupção.
Dados da CGU apontam que, nos últimos 10 anos, o número de servidores
federais punidos por envolvimento em corrupção dobrou. Entre 2003 e
2006, a média anual era de 270 punições por ano; já entre 2011 e 2013, a
média de punições anualmente foi superior a 530.
Os ministérios onde mais punições foram aplicadas foram os da
Previdência Social, da Justiça e da Educação. Em 67% dos casos, a
justificativa para a punição ao servidor foi por “atos relacionados à
corrupção”, que, por sua vez, comumente envolvem a ação de agentes
privados que também se beneficiam do esquema.
O maior obstáculo para aprofundar o combate à corrupção, para o
secretário-executivo da CGU, segue sendo a velocidade com que as
denúncias são julgadas pelo Poder Judiciário.
“Nos últimos anos, o governo não promoveu apenas a Lei Anticorrupção.
Temos a Lei de Acesso à Informação, que ataca uma cultura muito
arraigada de sigilo no seio do serviço público brasileiro. Houve a lei
de responsabilização da pessoa jurídica. Mas ainda precisamos avançar no
Judiciário. Não acho que o problema seja com os juízes, mas com os
processos, que demoram muito. A legislação permite um número infindável
de recursos. No âmbito da CGU, temos ações muito importantes, como
identificar a corrupção, demitir o servidor corrupto, mas é muito
importante que a esfera penal e a esfera civil caminhem com maior
celeridade”, aponta.
Higino diz que a demora para que os processos cumpram todo o rito no
Judiciário prejudica principalmente o ressarcimento dos recursos
perdidos com a corrupção, uma vez que os réus têm tempo de sobra para
ocultar os bens que seriam confiscados pela Justiça. “Não se trata de
não conferir ampla defesa a quem quer que seja. Mas, nesses casos, o
tempo é determinante para que a Justiça seja feita”, pondera o
secretário.
Corrupção no metrô
Um dos primeiros grandes casos de julgamento de empresas sob a
vigência da Lei Anticorrupção pode ser a Alstom, envolvida no pagamento
de propina a políticos do PSDB paulista e fraude de licitações do Metrô e
da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) durante os
governos dos tucanos Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin.
Na semana passada, o Ministério Público ofereceu multa de R$ 80
milhões para que a empresa se declarasse culpada e colaborasse com as
investigações, mas a Alstom, que alega inocência das acusações, não
aceitou.
Um dos argumentos utilizados pelo promotor Sílvio Marques para fechar
o acordo foi o de que buscaria a condenação da empresa ao pagamento de
20% de seu faturamento no ano passado, valor equivalente a R$ 500
milhões.
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