Partidos relevantes da oposição não querem Joaquim Barbosa, mas sem ele o pleito parece perdido.
Por Tiago Pereira
Poucas semanas atrás, a divulgação da pesquisa Datafolha
para as próximas eleições presidenciais foi comemorada pelo governo e
trouxe desânimo para a oposição. Passada a euforia dos primeiros dias
com a composição entre Marina Silva e Eduardo Campos, os números apontam
para uma vitória de Dilma Rousseff ainda em primeiro turno.
Contudo, parece-me que o dado mais relevante trazido pelo
levantamento, e tratado de maneira residual pelos veículos, foi o
aparecimento em segundo lugar do nome de Joaquim Barbosa, presidente do
STF. Ainda que, mesmo assim, não consiga provocar um segundo turno, é
dado de extrema relevância, ao superar o conjunto da oposição, e,
portanto, merece reflexão.
O “Barbosismo”, calcado no moralismo de nova roupagem, personalista,
turbinado pelo espetáculo midiático das prisões dos condenados do
processo do “mensalão”, encontra ressonância nos setores mais radicais
de classe média (pseudointelectualizados, pseudopolitizados), que
recusam e criminalizam a política e são contra tudo que está aí.
Falta ao hipotético candidato, no entanto, bases sociais mais
sólidas. No mundo jurídico, Barbosa não é unanimidade. De Ives Gandra
Martins a Dalmo Dallari, sobram críticas de seus colegas aos excessos
cometidos, ao atropelamento dos direitos processuais, o gosto pelos
holofotes, e por fim, à mistura entre as funções de acusador e julgador
na Ação Penal 470. Celso Antonio Bandeira de Mello acusa-o de ser um homem mau. O movimento negro também não o identifica como seu porta-voz ideal.
Para pôr de pé sua candidatura, Joaquim conta com um ponto a seu
favor e outro contra. Para poder disputar as eleições, o magistrado tem
até o dia 5 de abril para se filiar a um partido político. Mais tempo,
mais holofotes. A dificuldade é encontrar partido que o respalde. Se
Barbosa refuta a política tradicional, essa também o recusa.
Segundo levantamento d’O Estado de S. Paulo,
dos principais partidos, nenhum se mostrou disposto a abrir-lhe as
portas. Dos partidos que estão com candidatura posta, nenhum abriria mão
da cabeça da chapa. Apenas o PSDB cultiva o sonho de tê-lo na vice. O
PMDB dá de ombros: “Se o ministro se filiar, será mais um”, segundo
Valdir Raupp, que preside a legenda.
Nos partidos médios, identificados com o fisiologismo, a recusa é
ainda mais veemente. “No PR não. Deus me livre”, diz o presidente da
sigla, senador Alfredo Nascimento. “No PP, não”. No PTB: “Não queremos
isso”. O PCdoB é taxativo: “Não me parece que o Joaquim Barbosa tenha
alguma afinidade com os comunistas”. Nem o PPS de Roberto Freire, sempre
disposto a tudo para fustigar o governo, recusa a empreitada: “Essa
filiação para uma candidatura não nos interessa”.
Entusiasmam-se apenas os nanicos. PMN, PRP, PT do B, PTC, PRTB, PHS e
PEN colocam-se à disposição do ministro, interessados na visibilidade
que o nome traria à legenda. Juntando os sete, não dá meio. Barbosa
parece que também não se sujeitaria. Por mais de uma oportunidade
condenou o atual quadro de proliferação das legendas, que criam, em suas
palavras, “partidos de mentirinha”.
A conta não fecha. Partidos relevantes da oposição não querem
Barbosa, mas sem ele o pleito parece perdido. A um ano das eleições,
muita água ainda vai passar por debaixo da ponte. No entanto, caso o
quadro fique inalterado e se consolide a provável vitória do PT de
Dilma, as pressões por uma aliança de Barbosa com a oposição aumentarão a
cada dia.
O movimento ecoa o contexto político pré-64. Um projeto trabalhista
fustigado por denúncias de corrupção, em meio a uma onda moralista
respaldada pela opinião pública e publicada que busca uma figura heroica
com a capacidade de varrer toda essa sujeira da política e corrigir os
rumos da nação. Antes, buscaram o apoio das metralhadoras e dos homens
de verde-oliva. Agora, o martelo e a capa preta.
Fonte: http://www.amalgama.blog.br
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