Retrato gigante de criança no
Paquistão lembra mortos por drones dos EUA
A ideia é fazer com que os operadores dos aviões não-tripulados vejam a imagem antes de disparar os mísseis
Opera Mundi, por Felipe Amorim, em 7/4/2014
A ideia dos criadores da instalação é fazer com que os
operadores de drones tenham, da tela digital da qual disparam seus mísseis, a
real dimensão do que estão executando: "não é um pontinho anônimo na
paisagem, mas o rosto de uma criança vítima e inocente".
O projeto foi batizado de "Not a Bug Splat", em
referência ao termo usado pelos próprios militares norte-americanos ao se
referirem aos civis mortos em ataques. Conforme relatado pela
revista Rolling Stone,
o Exército descreve as "casualidades" como "bug splat"
(algo como "inseto esmagado", em tradução livre) já que "ver um
corpo no monitor verde acinzentado dá a impressão de um inseto sendo
amassado".
O nome da criança que estampa o poster é desconhecido, mas, de
acordo com a entidade que promove a campanha, o pai, a mãe e dois irmãos
pequenos da menina foram mortos em ataques com drones em Khyber Pukhtoonkhwa,
região em que mais de 200 crianças já morreram vítimas de bombardeios, segundo
estimativas.
Os bombardeios com aviões não-tripulados são uma das principais
ferramentas norte-americanas na chamada Guerra ao Terror, empreendida após os
atentados de 11 de Setembro de 2001. O programa de drones começou em 2004 sob o
governo George W. Bush, mas ganhou força com a chegada de Obama à Casa Branca.
A região noroeste do Paquistão é o alvo majoritário dos ataques.
Na área, próxima à fronteira com o Afeganistão, predominam forças tribais
acusadas de colobarar com o talibã e organizações terroristas. O assunto causa
polêmica no país. Oficialmente, o governo paquistanês mantém um acordo tácito
com os EUA permitindo que os ataques (ou, pelo menos, alguns deles) sejam
realizados. No entanto, Islamabad tem vindo a público para condenar a prática
norte-americana e a constante quebra de soberania.
Embora os EUA digam repetidas vezes que os bombardeios com
drones sejam a mais eficaz das armas usadas no combate à Al Qaeda, há estudos
que mostram o contrário.
Um levantamento que
pode ser visto no gráfico interativo "Out of Sight, Out of Mind" mostra
que dos mais de 3 mil mortos contabilizados pelo projeto desde 2004, apenas em
1,5% dos casos houve confirmação de ligações com atividades terroristas.
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