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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Os ateus são ‘mais pacíficos’


A religião é uma das mais eficazes e sanguinolentas fontes de guerras, discórdias e matanças.

DCM, por Paulo Nogueira, em 28 de abril de 2014

OS ATEUS são mais pacíficos?
É uma questão que emerge de uma das listagens mais interessantes que existem. É o GPI, Global Peace Index, fruto de um centro de estudos baseado em Londres.
Think tank, como são comumente chamados tais centros no mundo globalizado.
Tratei já do GPI neste espaço.  Especialistas trabalham com mais de 20 indicadores econômicos e sociais de 144 países e montam uma lista da paz e riqueza  mundiais.
Uma das coisas que impressionam, e têm despertado uma discussão vibrante, é a alta colocação dos países “ateus”, aqueles em que a maior parte das pessoas não acredita em Deus.  A Suécia, com 85% de ateus, cintila no GPI e em todas as análises comparativas de desenvolvimento  econômico, humano e social.  Bem como a Dinamarca, a Noruega , a Islândia e a Finlândia.
No caso do GPI, todos estes países escandinavos estão no topo.  O ateísmo é elevado em cada um deles.  Do lado oposto, as piores colocações são de países com religiosidade alta, seja muçulmana ou cristã. O Brasil, como em todo estudo de avanço sexual, tem uma posição brutalmente  medíocre. Ninguém corre o risco de ver Lula brandi-la na campanha, triunfal.
Desde os primórdios da civilização, uma das razões mais comuns de conflitos é a religião. A Índia, para ficar num caso, foi golpeada duramente em seu progresso por conta da guerra sangrenta entre hindus e muçulmanos.  Um pedaço da Índia de dominação muçulmana acabou se tornando um país independente, o Paquistão, hoje no meio do caminho entre os jihadistas islâmicos e os mísseis americanos.
É revelador um vídeo que mostra Ophra, a apresentadora americana, indo a Copenhague para tentar descobrir por que a Dinamarca é o país mais feliz do mundo, segundo um outro estudo. (Estive lá também, pelo mesmo motivo.) Ophra junta um grupo típico de mulheres dinamarquesas e bate um papo.
São saudáveis, bonitas, articuladas, orgulhosas de seu país. Não são massacradas por plásticas, maquiagens, griffes.
Quando Ophra pergunta se acreditam em Deus, elas respondem prontamente que não. Uma diz que acredita na “humanidade”. Não há na resposta delas a arrogância vaidosa e agressiva de Juca Kfouri ao replicar uma observação de Kaká, aquele sentimento, oriundo sobretudo de quem militou em centros acadêmicos em que se decoram orelhas de Marx, de que “somos melhores que os crédulos”.
NÃO.
Elas falam com a alma leve.  Dizem também não acreditar tanto assim no casamento formal, o que não quer dizer que não possam ser boas mães e boas companheiras.
Não tenho a pretensão de esgotar uma discussão tão complexa aqui. Como o pastor de Updike que no meio de um sermão perde a fé, em algum momento deixei de crer. Não fiquei nem melhor e nem pior do que já era.
Também não tenho posição formada sobre a relação entre ateísmo e paz.  O homem que mais admirei na vida, meu pai, era profundamente religioso. Mas jamais  imaginou que sua fé fosse melhor que a de outros e nem tentou impô-la a quem quer que fosse. Meu romancista predileto, Graham Greene, era católico.
Mas muita gente pensa e age diferente de papai e de Greene.
São pessoas que consideram sua religião melhor, e estão dispostas a matar e morrer por isso.

Quem desmoralizou o STF foi o próprio STF



DCM,
 em 29 abril de 2014

Você pode discordar da porcentagem utilizada por Lula para definir o que foi o julgamento do Mensalão.
Lula falou em 80% de critérios políticos e 20% de critérios jurídicos.
O que não dá, a não ser que você seja um fanático antipetista, um caçador de petralhas, é discordar de que os juízes se pautaram muito mais pela política do que pela justiça em si.
O julgamento foi político do início ao fim. Você começa pelo empenho em juntar quarenta réus com um único propósito. Fornecer à mídia – visceralmente envolvida na politização do julgamento – a oportunidade de usar a expressão “Ali Babá e os quarenta ladrões”.
Outras coisas foram igualmente absurdas. Por que, em situações juridicamente semelhantes, Eduardo Azeredo do PSDB percorreu o caminho jurídico normal e os réus do Mensalão foram direto ao Supremo, sem chance, portanto, de outras instâncias?
E depois, como classificar a Teoria do Domínio do Fato, que dispensou provas para condenar?
E a dosimetria, pela qual, numa matemática jurídica abstrusa, condenados tiveram penas maiores do que o assassino serial da Noruega?
Num gesto cínico bizarro, o ministro Marco Aurélio de Mello disse que o STF é “apartidário” para rebater as afirmações de Lula.
Quem acredita nisso acredita em tudo, como disse Wellington. Um simples olhar para Gilmar Mendes – que até a jornalista Eliane Cantanhede num perfil classificou como tucano demais destroi o “apartidarismo”.
O STF se desmoralizou não porque Lula falou nos 80%, mas pelo comportamento de seus juízes.
Ou eles estavam zelando por sua honra e prestígio ao posar festivos ao lado de jornalistas “apartidários” como Merval Pereira e Reinaldo Azevedo, como se entre mídia e justiça não houvesse um problema de conflito de interesses?
E quando emergiram as condições em que Fux conquistou seu lugar no STF com o famoso “mato no peito” depois de uma louca cavalgada na qual se ajoelhou perante Dirceu?
A completa falta de neutralidade do STF se estenderia para além do julgamento. Como classificar a perseguição de Joaquim Barbosa a Dirceu e a Genoino?
E a tentativa de negar o direito aos chamados recursos infringentes fingindo que a Constiuição não previa isso? Apartidarismo?
Um argumento falacioso que se usa a favor do STF é o seguinte: mas foi o PT quem tinha indicado a maioria dos juízes.
Ora, então indicou mal, a começar por Barbosa, nomeado por Lula. Eles foram antipetistas estridentes a despeito de terem sido nomeados pelo PT.
Seria horrível se agissem como petistas, é claro. Mas foi igualmente horrível terem se comportado como antipetistas.
O que a sociedade queria, ali, era uma coisa chamada neutralidade, uma palavra muito usada hoje por conta do Marco Civil da internet.
Outro argumento desonesto é o que estica os dedos acusatórios para Lewandowski. Ora, Lewandowski não emplacou uma. Foi voto vencido sempre que se contrapôs à manada.
Entre os juízes da primeira leva, foi o único que se salvou, e isto provavelmente vai ficar claro quando a posteridade estudar o Mensalão.
Se pareceu petista foi porque o ar estava viciadamente antipetista. Era como no passado da ditadura: num ambiente tão anticomunista, todo mundo era comunista.
O STF é hoje um arremedo de corte suprema, mas por culpa sua, e apenas sua.
O Mensalão deixou claro, ao jogar luzes sobre o STF, que uma reforma na Justiça é urgente para que o Brasil possa avançar.

domingo, 27 de abril de 2014


Padilha e o "diálogo" com a imprensa: até onde vão as ilusões petistas?



     Esse é o diálogo que a velha mídia gosta de estabelecer dirigentes do PT: eles entram com a cabeça


Escrevinhador, por Rodrigo Vianna, publicada em 26/04/2014


Lula jamais se vingou dos Frias. Olhou pra frente. Errou? Teve a chance, também, de enterrar a Globo – endividada em 2003. Não avançou nisso. Aliás, presidente eleito, foi para a bancada do “JN” ao lado de Bonner. Alguém imaginaria Brizola, eleito, na bancada do “JN”? Alguns dirão: por isso que Brizola jamais foi presidente. Talvez, tenham razão…O PT deveria ter aprendido – com Lula – que esses almoços com representantes da velha mídia não servem pra nada. O então candidato petista foi à sede da “Folha”, em 2002. Lá pelas tantas, o herdeiro do jornal, Otavinho Frias, fez uma insinuação de que Lula não estaria preparado para ser presidente porque não sabia falar inglês. Lula levantou-se e foi embora. O velho Frias (que emprestava carros para torturadores durante a ditadura, mas não era tolo a ponto de confrontar um futuro presidente) saiu andando atrás do candidato, tentando se desculpar pela arrogância do filho.

Mas o PT seguiu apanhando e confraternizando-se com a velha mídia. Dilma foi fazer omelete com Ana Maria Braga em 2011. E disse que a questão da Comunicação no Brasil se resolvia com controle remoto.
Haddad, eleito depois de uma campanha em que meios digitais tiveram papel decisivo na capital paulista, mandou dizer pouco antes da posse que Comunicação era um assunto em que não cabia debate sobre políticas públicas. Pôs no cargo de Secretário um jornalista que imagina resolver todos problemas com telefonemas para as redações da “Folha” e “Estadão”. Haddad chegou a dizer que esperava uma “normalização” das relações com a mídia. Foi cozido e fritado por ela.
Padilha começou sua campanha a governador de São Paulo com caravanas pelo interior – transmitidas pela internet. Boa novidade. Mas também adotou a “tática” (!) dos almoços em jornais, pensando em criar (quem sabe) um clima de camaradagem com personagens do quilate dos Mesquita e dos Frias. Recentemente, ouvi de um alto dirigente do PT (foi conversa em off, não posso por isso revelar detalhes) que o partido não abre mão de “dialogar com todos os setores da imprensa” na campanha para o governo de São Paulo.
Sei… Gostaria de saber o que esse petista graúdo acha do “diálogo” estabelecido entre os jornais e Padilha na última semana. Diálogo bastante interessante.
O ex-ministro foi submetido a uma operação de guerra. A tentativa é de abatê-lo em pleno vôo, antes mesmo da campanha começar. Os aliados midiáticos dos tucanos perceberam a fragilidade de Alckmin num momento em que São Paulo está na iminência de ficar sem água por falta de planejamento dos governos do PSDB. No dia em que Padilha iria pra TV falar da seca, os jornais vieram com o ataque coordenado contra o petista.
As manchetes seriam a sobremesa do almoço recente de Padilha com representantes da família Mesquita?

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A vaca, a opulência e a miséria

Ignacio Ramonet denunciou que uma vaca europeia recebe 4 euros diários de subvenção enquanto uma pessoa na África vive com menos de 1 euro por dia!



Carta Maior, por José Carlos Peliano, em 23/04/2014

Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique, denunciou que uma vaca europeia recebe 4 euros diários de subvenção enquanto uma pessoa na África  vive com menos de 1 euro por dia! Um escândalo que o levou a concluir que vale mais ser uma vaca europeia que um ser humano africano.

Nesse mundo marcadamente desigual, de fato, vale mais ser muitos outros caprichos da sociedade opulenta do que passar fome e viver à míngua. A dignidade humana perdeu o valor em contraste com as veleidades, prazeres e interesses do lucro pelo lucro, pela acumulação e pela riqueza.

Não que uma vaca não possa ver subsidiada para garantir uma adequada produção de leite para os europeus diante exatamente das vicissitudes dos diferentes mercados, condições climáticas e do panorama dos preços relativos estabelecidos.
 
Também a priori nada a opor que um africano não possa viver com menos de 1 euro por mês se esta quantia lhe garanta uma sobrevivência igualmente adequada na situação econômica do país em que viva.

Se e somente se essas disparidades entre indivíduos, países e regiões sejam acompanhadas e julgadas com humanidade e justiça nas mais diversas situações de vida. O que infelizmente não é o que acontece mundo afora. Entre a vaca e o africano passa um oceano de injustiças, desigualdades, opulência e miséria. O que falta de um lado necessariamente é o que sobra no outro.

Simples assim. A opulência de um país é o retrato da miséria do outro no mundo antes mercantilizado e hoje globalizado desde a produção até o consumo passando pelos direitos de posse e propriedade. A penúria que assola um país é a opulência que é acumulada noutro. O que distingue o ser humano da barbárie, seja esta primitiva ou contemporânea, é que a vida é inegociável, mas a riqueza não é.

Cada unidade produzida de bem ou serviço em qualquer parte do mundo já traz embutida a marca da desigualdade. O que sobra no produto de lucro é o que faz falta ao desempregado para conseguir ocupação, ao faminto para não ter de roubar uma galinha (e uma ação parar no Supremo), ao doente que não tem recursos para comprar medicamento. O capitalismo não existe sem lucro, mas ele é que separa os que têm e os que não têm. Ele é quem dá a forma e o tamanho da desigualdade. Quanto maior o lucro num quadro de desigualdade mais a desigualdade impera, se alastra, convulsiona.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Conceição Lemes, 33 anos de estrada: Resposta em público a O Globo























Viomundo, por Conceição Lemes, em 16/04/2014

Na segunda-feira 13, uma repórter de O Globo enviou-nos um e-mail:

“Estou fazendo uma matéria sobre a entrevista que o ex-presidente Lula concedeu a blogueiros na semana passada. Gostaria de conversar contigo por telefone”.
Pedi que enviasse as perguntas por e-mail. Hoje, às 12h27 elas foram encaminhadas:
Nada contra a repórter. Embora não a conheça, respeito-a profissionalmente como colega.
Já a empresa para a qual trabalha, não merece a nossa consideração.
Com essas perguntas aos blogueiros, O Globo parece estar com saudades da ditadura, quando apresentava como verdadeira a versão dos órgãos de repressão.  Exemplo disso foi a da prisão, tortura e assassinato de Raul Amaro Nin Ferreira, em 1971, no Rio de Janeiro.
Com essas perguntas, O Globo parece querer promover uma caça aos blogueiros progressistas. Um macartismo à brasileira.
O marcartismo, como todos sabem, consistiu num movimento que vigorou nos EUA do final da década de 1940 até meados da década de 1950.  Caracterizou-se por intensa patrulha anticomunista, perseguição política e dersrespeito aos direitos civis.
O interrogatório emblemático daqueles tempos nos EUA:
Mr. Willis: Well, are you now, or have you ever been, a member of the Communist Party? (Bem, você é agora ou já foi membro do Partido Comunista?)
A sensação com as perguntas de O Globo é que voltamos à ditadura. Agora, a ditadura midiática das Organizações Globo. É como estivéssemos sendo colocados numa sala de interrogatório.
Afinal, qual o objetivo de saber se pertencemos a algum partido político?
Será que O Globo faria essa pergunta aos jornalistas de direita, travestidos de neutros, que rezam pela sua cartilha?
E se fossemos nós, blogueiros progressistas, que fizéssemos essas perguntas aos jornalistas de O Globo?
Imediatamente, seríamos tachados de antidemocratas, cerceadores da liberdade de expressão, chavistas e outros mantras do gênero.
Como um grupo empresarial que cresceu graças aos bons serviços prestados à ditadura civil-militar tem moral de questionar ideologicamente os blogueiros que participaram da entrevista coletiva?
Liberdade de imprensa e de expressão vale só para direita e para a esquerda, não?
Como uma empresa que tem no seu histórico o colaboracionismo com a ditadura, o caso pró-Consult, o debate editado do Collor vs Lula, ter sido contra a campanha Pelas Diretas,  pode se arvorar em ditar normas de bom Jornalismo e ética?
Como uma empresa que deve R$ 900 milhões ao fisco tem moral para questionar outros brasileiros?
Como um grupo empresarial que recebe, disparadamente, a maior fatia da publicidade do governo federal pode criticar os poucos blogs que recebem alguma propaganda governamental?
Viomundo, repetimos, não aceita propaganda dos governos federal, estaduais e municipais. É uma opção nossa. Mas respeitamos quem recebe. É um direito.
No Viomundo, não temos nada a esconder.  Só não admitimos que as Organizações Globo, incluindo O Globo, com todo o seu histórico, se arvorem no direito de fiscalizar a blogosfera.
Por isso, eu Conceição Lemes, que representei o Viomundo na coletiva, não respondi a O Globo. Preferi responder aos nossos milhares de leitores.  Diretamente. E em público.
Seguem as perguntas de O Globo e as minhas respostas.
Qual a sua formação acadêmica?
Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
Qual a sua atuação profissional antes do blog? Já cobriu política por outros veículos?
Sou editora do Viomundo, onde faço política, direitos humanos, movimentos sociais. Toco ainda o nosso Blog da Saúde.
No início da carreira, fiz um pouco de tudo: economia, política, revistas femininas, rádio…
Há 33 anos atuo principalmente como jornalista especializada em saúde, tendo ganho mais de 20 prêmios por reportagens nessa área. Entre eles, o Esso de Informação Científica, o José Reis de Jornalismo Científico, concedido pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), e o Sheila Cortopassi de Direitos Humanos na área de Comunicação, outorgado pela Associação para Prevenção e Tratamento da Aids e Saúde Preventiva (APTA) com apoio do Unicef.
Conquistei também vários prêmios Abril de Jornalismo, a maioria por matérias publicadas na revista Saúde!, da qual foi repórter, editora-assistente, editora e redatora-chefe.
Em 1995, fui  premiada pela reportagem “Aids — A Distância entre Intenção e Gesto”, publicada pela revista Playboy. O projeto que desenvolvi para essa matéria foi selecionado para apresentação oral na 10ª Conferência Internacional de Aids, realizada em 1994 no Japão.
Pela primeira vez um jornalista brasileiro teve o seu trabalho aprovado para esse congresso. Concorri com cerca de 5 mil trabalhos enviados por pesquisadores de todo o mundo. Aproximadamente 300 foram escolhidos para apresentação oral, sendo apenas dez de investigadores brasileiros. Entre eles, o meu. Em consequência, fui ao Japão como consultora da Organização Mundial da Saúde.
Tenho oito livros publicados na área.
O mais recente, lançado em 2010, é Saúde – A hora é agora, em parceria com o professor Mílton de Arruda Martins, titular de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP, e o médico Mario Ferreira Júnior, coordenador de Centro de Promoção de Saúde do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Em 2003/2004, foi a vez da  coleção Urologia Sem Segredos, da Sociedade Brasileira de Urologia, destinada ao público em geral.
Os primeiros livros foram em 1995. Um deles, o Olha a pressão!, em parceira com o médico Artur Beltrame Ribeiro.
O outro foi a adaptação e texto da edição brasileira do livro Tratamento Clínico da Infecção pelo HIV, do professor John G. Bartlett, da Universidade Johns Hopkins, nos EUA. A tradução e supervisão científica são do médico Drauzio Varella.
Você é filiada a algum partido político?
Não sou nem nunca fui filiada a qualquer partido político.
Mas me estranha muito uma empresa que apoiou a ditadura, cresceu devido a benesses do regime e hoje se alinhe com todos os espectros da direita brasileira, questione a a filiação partidária de um jornalista.
Quer dizer de direita, tudo bem, e de esquerda, não?
Como você definiria os “blogueiros progressistas”? Existe uma linha política?
Somos de esquerda.
Defendemos:
Melhor distribuição da renda no país.
Reforma agrária.
Os movimentos sociais por melhores condições de moradia, trabalho, defesa do meio ambiente, saúde e educação.
Regulamentação dos meios de comunicação.
Valorização do salário mínimo.
Política de cotas raciais nas universidades.
Direitos reprodutivos e sexuais das mulheres brasileiras.
Combate à discriminação e promoção dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais
Imposto sobre grandes fortunas.
Financiamento público de campanha.
Reforma política.
Fortalecimento da Petrobras.
Sistema Único de Saúde.
Como você foi chamada para a entrevista? Recebeu alguma ajuda de custo do instituto?
Por e-mail. Nenhuma ajuda.
O que você achou da seleção de blogueiros para a entrevista? Incluiria, por exemplo, representantes da mídia ninja ou blogueiros “de oposição”, como Reinaldo Azevedo?
O Instituto Lula tem o direito de chamar para entrevistar o ex-presidente quem ele quiser.
Engraçado O Globo perguntar isso. De manhã à madrugada, de domingo a domingo, todos os veículos das Organizações Globo privilegiam, ostensivamente, sem o menor pundonor, vozes do conservadorismo brasileiro e internacional. Pior é que travestido de uma falsa neutralidade.
Por que O Globo pode chamar quem quiser e o ex-presidente Lula, não?
Por que as Organizações Globo não dão espaços iguais à esquerda e à direita, garantindo a pluralidade de opiniões?
No dia em que as Organizações Globo garantirem efetivamente a pluralidade de opiniões, respeitando a verdade factual, aí, sim, seus profissionais poderão questionar os nomes escolhidos por Lula.
Qual foi o ponto mais relevante da entrevista para você?
Ter falado três horas e meia com os blogueiros. Uma conversa em que nenhum assunto foi proibido. Tivemos liberdade plena de perguntar o que queríamos. Uma lição de democracia.
O instituto arcou com os seus custos de deslocamento?
Não. Fui de táxi. Paguei do meu próprio bolso.
Por que você acredita ter sido escolhida para a entrevista?
Quantos jornalistas brasileiros têm o meu currículo profissional? Quantos repórteres da mídia tradicional e da blogosfera produziram tantos furos jornalísticos quanto nós no Viomundo nos últimos cinco anos?
Por isso, deixo essa pergunta para você e os leitores do Viomundo responder.
O que você acha do movimento “Volta Lula”?
Quem tem de achar é a população e os militantes dos partidos da base de apoio do governo.
Sou apenas repórter. Cabe a mim, portanto, retratar o que presencio.
Qual nota você daria ao governo Dilma? Por quê?
O Globo tem fetiche por nota. Quem tem de dar a nota é o eleitorado. Sou repórter e minha opinião neste caso é irrelevante. A não ser que O Globo pretenda usá-la para fazer o que costuma fazer: manipular informação com objetivos políticos, em defesa de interesses da direita brasileira.
PS do Viomundo: Todas as nossas batalhas são financiadas exclusivamente pela contribuição de assinantes, a quem agradecemos por compartilhar conteúdo exclusivo generosamente com outros internautas. Torne-se um deles!

segunda-feira, 21 de abril de 2014

A gente não quer só Copa. O jogo da democracia também é decisivo


Crianças jogam futebol na recém-inaugurada BrasÌlia

O Brasil ainda é injusto e não consertou todos os estragos – e se vai ter Copa, que ela ajude a reparar alguns
Por Redação RBA, em 12/04/2014
Tem gente que adora futebol. Tem gente que não suporta. Tem os indiferentes ao jogo da bola, e também aqueles que só se ligam no assunto de quatro em quatro anos. Em tempo de Copa do Mundo, como agora. De uns tempos para cá, repetiu-se a expressão “não vai ter Copa”. Mas vai ter. De 12 de junho a 13 de julho, aqui no Brasil. Possivelmente com manifestações, que fazem parte do jogo. O jogo da democracia, que não começou em junho de 2013, nem terminará em outubro de 2014, quando o país escolherá seus novos governantes.
Porque, apesar dos desperdícios, da desorganização e da incômoda presença da Fifa, não é a Copa a pedra no caminho do desenvolvimento. A Copa vai passar, a seleção pode ser hexacampeã – ou não. Os movimentos sociais, os sindicatos, a população, todos querem um país melhor para viver, quer segurança, oportunidades, emprego, educação. Essa pauta está na mesa há muito tempo. O país teve avanços, mas com ou sem Copa continua sendo um dos mais desiguais do mundo.
Futebol se identifica com alegria, embora alguns só enxerguem o esporte como negócio – business, dirão outros. Para seus devotos, é uma arte encantadora e integradora como nenhum outro esporte, na maioria dos países em que é mais ou menos bem jogado. Na origem, no Brasil, embora de raiz europeia, o futebol logo se espalhou como opção popular de lazer. E também se mostrou como um espelho da sociedade em suas contradições e preconceitos, como deixaram claro alguns recentes episódios de racismo em estádios. Um problema que existia lá atrás, como demonstrava, por exemplo, o livro O Negro no Futebol Brasileiro, escrito por Mário Filho em 1947. Era jogo de bacana.
Aliás, o país foi modelado durante muito tempo para ser dos bacanas. O cinquentenário do golpe, motivo para reflexão (e reedição farsesca de certas marchas), lembra também que o projeto de país forjado naquele momento excluiu a maioria e suprimiu liberdades que gradualmente foram reconquistadas nas três últimas décadas. O Brasil ainda é injusto e não consertou todos os estragos – e se vai ter Copa, que ela ajude a consertar alguns. Mas hoje pode gritar, apontar suas mazelas e fazer – como escreveu, também 50 anos atrás, o poeta Thiago de Mello – com que a liberdade seja “algo vivo e transparente, como um fogo ou um rio”.

Crônica: Adeus, caipiras. O sítio acabou

Esta noite eu tive um sonho/ Acordei muito assustado/ Sonhei que o mundo moderno/ No sertão tinha chegado/ O verde da minha roça/ eu vi tudo arrasado/ O ribeirão poluído/ Carreador tudo asfaltado (Trecho de Pesadelo de Caboclo, de Adauto Santos)


RBA, por Silvio Berengani, em 20/04/2014
O sítio acabou. Não tem mais porco no chiqueiro, pomar, nem galinha no terreiro. Cambuquira no meio das ruas do cafezal, então... Também quase não tem cafezal. Nem mais gente na roça. No horizonte se veem os johns deeres e masseys e suas possantes carpideiras, plantadeiras, envenenadeiras, colhedeiras e desempregadeiras. Bois e vacas na invernada são tão raros quantos lambaris nos riachos. No lugar da enxada, o randapi, aquele veneno de matar mato que a Monsanto inventou para não matar planta transgênica. O sítio da vó, da madrinha, do primo...  ficou na memória. Quem viu e viveu, guarde as boas lembranças. Quem não viu e não viveu, dificilmente verá.
Se a gente fosse traçar o mapa da divisão agrícola do estado de São Paulo, teríamos poucas categorias. Lá, hoje estão desertos verdes onde nem passarinho voa. A monocultura impera que nem quiçaça em beira de lote abandonado. A partir do leste temos o litoral. Em terra, a pequena mancha, a escassa Mata Atlântica. A seguir, as manchas das regiões metropolitanas. Em torno delas, cinturões verdes, teimosia da agricultura familiar.
Dali em diante quase nenhum resquício do mundo rural dos caipiras, violeiros, jecas, boiadeiros, benzedeiros, doceiras e tantos outros personagens de nossa remota identidade. Só cana, eucalipto e laranja. Mais adiante, tanto faz se a oeste ou norte, cana, laranja e eucalipto. No centro, e muitos quilômetros à frente, laranja, cana e eucalípto. No final, já perto de Minas ou de Mato Grosso do Sul, cana, com sorte, algum eucalipto, às vezes milho ou soja, grãos que há muito deixaram de ser alimentos para se tornar moeda nas bolsas. Comódites.
Não é exagero. Quer mais? Ganha um copo de puro leite longa vida quem trouxer à redação desta revista uma paçoquinha, uma pamonha ou rapadura comprada num daqueles esquecidos ranchos à beira de estrada. Parada de viagem, hoje, é naqueles quase shopping centers de nomes americanos. Não tem um torresmo.
A nova música do interior joga a pá de cal na cova pr’onde desce uma parte das velhas identidades. Trabalho, natureza e paixões (perdidas ou conquistadas) forneciam matéria-prima e inspiração à música caipira. Hoje, são, em ordem: a banalização da mulher, a dor de corno e o enaltecimento da manguaça.
Parece até uma combinação entre indústria cultural, agronegócio e agências de modelos a despejar diariamente duplas e mais duplas de sertanejos universitários. Se esses universitários aprendem, pensam e agem como cantam nessas canções, pouco futuro resta ao Brasil. Temo até a formação nas pequenas cidades interioranas de uma geração de jovens a acreditar que o leite vem mesmo é da caixinha.
Não é o caso de defender uma volta aos velhos tempos. Talvez o esquecimento seja proposital, os tempos antigos eram duros, o trabalho era penoso, e renda das massas de boias-frias, meeiros e outros tipos de trabalhadores rurais era grão. É certo que os jovens queiram mais. Apenas a necessidade extremada da sobrevivência justifica os suplícios de uma roça.
Os descendentes dos antigos caipiras têm direito a uma vida digna e confortável como qualquer morador de centro urbano. O que choca é a velocidade e a forma violenta pela qual nos são tirados recursos tão preciosos, como os simbolismos de nossa existência, da memória dos antepassados, costumes, a cultura sábia, a natureza viva, essas coisas que davam à vida mais ­sentido e sabor.

quarta-feira, 16 de abril de 2014


Em cenário estável, Dilma segue favorita para vencer no 1º turno

Em meio aos embates pela CPI da Petrobras e o mau humor da economia, a presidenta mantém vantagem; os opositores somam 14 pontos a menos que a petista
CartaCapital, por Redação — publicado 16/04/2014 
Pesquisa Vox Populi / CartaCapital realizada entre os dias 6 e 8 de abril revela um cenário estável para a Dilma Rousseff (PT) a cerca de três meses do início da campanha eleitoral. A presidenta oscilou um ponto negativo em relação ao último levantamento, em fevereiro, e aparece como a candidata favorita de 40% dos eleitores. Juntos, os adversários somam 26% das intenções de voto. O cenário para a sucessão, portanto, praticamente não se alterou nos dois últimos meses, apesar do mau humor com a economia e da crise na Petrobras, alvo de embates por uma CPI no Congresso.
Em segundo lugar na pesquisa, o tucano Aécio Neves também oscilou um ponto para baixo. Em fevereiro, era lembrado por 17% dos eleitores. Hoje aparece com 16%. Eduardo Campos (PSB), que durante a semana anunciou a ex-senadora Marina Silva como a pré-candidata a vice em sua chapa, soma 8% (tinha 6% há dois meses). O Pastor Everaldo Pereira, pré-candidato do PSC, tem 2%.
Os pré-candidatos Levy Fidelix (PRTB), Randolfe Rodrigues (PSOL), Eymael (PSDC) e Mauro Iasi (PCB) não pontuaram. Votos brancos ou nulos somam 15%. O número de eleitores que não sabem em quem votar ou que não responderam a pesquisa é de 18%.
Nesta quinta-feira 17 serão divulgados todos os detalhes da pesquisa CartaCapital/Vox Populi.
Para a pesquisa, o instituto ouviu 2.200 eleitores em 161 municípios. A margem de erro é de 2,1 pontos percentuais. Os detalhes da pesquisa podem ser conferidos na edição impressa de CartaCapital, nas bancas a partir da quinta-feira 17.

terça-feira, 15 de abril de 2014

“Nós reerguemos a indústria naval brasileira”, afirma Dilma

Jornal GGN – 14/04/2014 
 
A presidente Dilma Rousseff participou, na manhã desta segunda (14), da viagem inaugural do navio Dragão do Mar e do batismo do navio Henrique Dias, no Estaleiro Atlântico Sul, em Pernambuco. Na ocasião, a chefe do Executivo destacou os investimentos feitos pelo governo federal na indústria naval brasileira desde que seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o Palácio do Planalto. Segundo ela, não fossem as políticas desenvolvidas a partir de 2003, o setor continuaria estagnado.
“Nós fomos a segunda maior indústria naval nos anos 1980 no mundo, mas entramos numa reta inclinada para baixo e perdemos a importância, porque não havia incentivo, não faziam políticas industriais e não tinha política de compra. Nós [gestão Lula e Dilma] reconstruímos a indústria naval com projetos. E começamos mudando radicalmente a política de compra, que é comprar aquilo que o seu país pode produzir”, disse a presidente.
Segundo Dilma, incentivando a produção nacional, o governo parou “de exportar o que o Brasil tem de mais preciso, que é emprego para cada família brasileira”. “[Na última década] multiplicamos os empregos no setor por 10. Era algo perto de sete mil empregos, e hoje estamos perto de 80 mil empregos”, sustentou.
Dilma ainda frisou que o projeto de ampliar a frota de navios petroleiros saiu do papel com seu esforço pessoal, enquanto comandante do Ministério de Minas e Energia, e da atual presidente da Petrobras, Graça Foster. “[Quando o governo sinalizou que queria produzir mais navios petroleiros] disseram que a gente não ia conseguir nem produzir os cascos”, contou a petista. “Mas como eu e a Graça somos incrédulas quando se trata de rebaixar a competência brasileira, nós insistimos”, completou.
Em seu discurso, Graça Foster reforçou que o Prominp e o Promef são “programas que nasceram por decisão do governo federal, não só para [beneficiar] a Transpetro ou a Petrobras”, fundamentais para a expansão da indústria naval. A dirigente acrescentou que União se comprometeu a investir, entre 2013 e 2020, “100 bilhões de dólares na indústria naval offshore”. Ainda de acordo com Graça, o Dragão do Mar é motivo de orgulho para a Nação, pois tem capacidade para transporta 1 milhão de barris do petróleo, o que equivale à metade da produção diária da Petrobras no Brasil.
Retomada do setor
A indústria naval brasileira passou quase 20 anos em crise, sem qualquer política de incentivo à construção naval. Mas a partir da Lei do Petróleo, assinada em 1997, o governo FHC junto com a Petrobrás instauraram no país uma série de medidas para substituir as importações e induzir a produção de conteúdo local. Em 2003 e 2004, dois programas, o Promef e o Pomimp, concretizaram o objetivo da Lei do Petróleo e o país que tinha 1910 trabalhadores no setor em 2001, hoje conta com 78.136 empregos diretos.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Governo vai combater ação de criminosos no Minha Casa, Minha Vida

Agência Brasil, por Ana Cristina Campos -  Edição: Graça Adjuto

A presidenta Dilma Rousseff disse hoje (14) que o governo vai utilizar todos os meios legais para impedir que criminosos roubem as propriedades das famílias beneficiadas pelo Programa Minha Casa, Minha Vida. Por meio de parcerias, a Polícia Federal vai apoiar as polícias estaduais nas investigações para impedir e reprimir abusos e crimes. Dilma lembrou que quem recebe subsídio do governo não pode vender a casa por dez anos.
“Assim, toda compra feita desses proprietários originais, fictícia ou não, é ilegal. E nós, do governo federal, apoiaremos sempre o proprietário original para assegurar o seu direito à moradia”, acrescentou.

O primeiro balanço sobre a investigação das denúncias de irregularidades no Minha Casa, Minha Vida foi divulgado na sexta-feira (11) e registrou 15.720 denúncias de ilegalidades ao longo dos cinco anos de execução do programa. Do total, 8.964 (57%) notificações foram julgadas improcedentes, após investigação. Em 1.561 casos, as unidades ocupadas ilegalmente foram retomadas e devolvidas aos beneficiários originais e 5.195 denúncias continuam em apuração.Dilma lembrou ainda, em seu programa semanal Café com a Presidenta, que o governo federal já firmou parceria com o Rio de Janeiro para atuar no combate a desvios, fraudes e invasões. Ela informou que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, propôs parcerias semelhantes a Minas Gerais, ao Maranhão e à Bahia.

“A casa não é do município, não é do estado, nem do governo federal. Não é um presente, porque o dinheiro que investimos no Minha Casa, Minha Vida vem dos impostos pagos por todo o povo brasileiro. A casa é das pessoas beneficiadas pelo programa e é obrigação de toda a sociedade brasileira respeitar esse direito e a propriedade que essas famílias têm sobre sua própria casa”, ressaltou.
O Minha Casa, Minha Vida já beneficiou 1,6 milhão de famílias. Segundo Dilma, mais 1,7 milhão de moradias contratadas estão em diferentes estágios de construção. “E até o fim deste ano, nós vamos contratar a construção de mais 450 mil moradias”, informou.
Todas as famílias com renda até R$ 5 mil por mês podem ser beneficiadas pelo Minha Casa, Minha Vida. As condições de financiamento variam de acordo com a renda da família. Quem tem renda menor, recebe  apoio maior do governo.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Entrevista de Lula a blogueiros: Zero Hora mente e omite informações de seus leitores






Viomundo, por Luiz Carlos Azenha, publicado em 11 de abril de 2014 



Tijolaço nos informa que o diário direitista gaúcho Zero Hora teve o seguinte a dizer sobre a entrevista do ex-presidente Lula a blogueiros: “o ex-presidente sentou-se à mesa com pessoas que não têm como oferecer a neutralidade reclamada. Seus ouvintes eram responsáveis por blogs assumidamente governistas, muitos dos quais sustentados por verbas oficiais.”
Zero Hora, como se sabe, pertence à família Sirotsky, do Grupo RBS, parceiro comercial e ideológico das Organizações Globo (olhem na lista acima) no Sul do país.
Se tivesse feito o trabalho jornalístico que se requer de uma poderosa empresa jornalística, teria descoberto o óbvio: a grande maioria dos blogueiros que entrevistaram o ex-presidente Lula não recebe um tostão sequer de “verbas oficiais”. Basta consultar as informações divulgadas pela Secom, a Secretaria de Comunicação Social ligada à Presidência da República.
Da entrevista participaram Renato Rovai (Revista Fórum e Blog do Rovai), Altamiro Borges (Blog do Miro), Conceição Lemes (Viomundo), Fernando Brito (Tijolaço), Marco Weissheimer (Sul 21 e Carta Maior), Eduardo Guimarães (Blog da Cidadania), Rodrigo Vianna (Escrevinhador), Kiko Nogueira (Diário do Centro do Mundo) e Miguel do Rosário (O Cafezinho).
Posso estar errado, mas dos veículos acima citados só a Carta Maior constava da listagem mais recente a que tive acesso, numa proporção absolutamente compatível com a importância que o site tem para a esquerda brasileira e para o público de esquerda existente no país.
Portanto, além de mentir neste ponto — “muitos dos quais sustentados por verbas oficiais” –, o Zero Hora sonegou de seus leitores outra informação fundamental, se realmente pretendia debater financiamento oficial da mídia e independência editorial.
Sonegou o fato de que o Grupo RBS certamente está na lista dos maiores receptores de dinheiro público dentre, digamos, os 50 maiores grupos de mídia do Brasil, pois recebe dinheiro do governo federal, de governos estaduais e de prefeituras. Se pretendia debater honestamente o assunto, o Zero Hora deveria contar aos leitores quanto exatamente a RBS recolhe em “verbas oficiais”.
O que levaria os leitores a concluir: se o Zero Hora, com todo o dinheiro oficial recebido pelo Grupo RBS, pode se declarar “independente”, por que blogueiros que não recebem um tostão em dinheiro oficial não podem ser independentes? Teriam sido abduzidos pelo lulismo? Hipnotizados pelo petismo?
Por que sonegar dos leitores que os entrevistadores de Lula representam blogues de esquerda, que se contrapõem ao jornalismo de direita do Zero Hora? Ah, sim, porque na cabeça dos editores do diário gaúcho o Zero Hora paira sobre a sociedade, “neutro”. Não é conservador, nem de direita.
Se eventualmente elogiamos medidas do governo, o que nos custa a pecha de “governistas”, sem receber nada em troca, isso deveria ser elogiável: é demonstração de que colocamos convicções políticas adiante de interesses comerciais, algo muito raro no jornalismo de hoje. As convicções políticas da família Sirotsky, aliás, ficam absolutamente explícitas na linha editorial dos órgãos midiáticos do grupo RBS. Por que, então, deveríamos esconder as nossas? Isso não nos dá, nem a eles, o direito de distorcer, manipular ou mentir. Na entrevista de Lula foram tratados todos os temas importantes da conjuntura política atual, da Petrobras ao caso do deputado André Vargas, de Lula candidato à Copa do Mundo. Sem antipetismo doentio, sem pré-julgamentos e dando ao ex-presidente o direito de se expressar.
Viomundo, como vocês sabem, tem como política não receber “verbas oficiais”, de governos de todas as esferas ou de empresas públicas.
Por que o Zero Hora não adota a mesma diretriz, que contribuiria para cortar os gastos públicos? Quantas creches e hospitais poderiam ter sido construídos com o dinheiro que o Grupo RBS embolsou até hoje em “verbas oficiais”?
Taí um exercício que os editores do diário gaúcho ficam devendo a seus leitores, assim como aos ouvintes e telespectadores do Grupo RBS: um debate honesto sobre o financiamento da mídia.


É óbvio que sabemos exatamente o motivo da chiadeira da família Sirotsky (vista acima com os Marinho).
Ela se revolta com a perda do monopólio da informação, que até recentemente permitia ao grupo selecionar as notícias “existentes” ou não, os ângulos e as frases pinçadas de uma longa entrevista que permitiam empacotar a sua “versão” dos fatos.
Desculpem, mas a internet acabou com isso: entrevistas longas, em tempo real, ficam imediatamente disponíveis, na íntegra, em rede, permitindo a leitores/ouvintes/telespectadores que fiscalizem eles próprios as distorções, omissões e manipulações tão comuns na mídia corporativa (na mesma tarde da entrevista a assessoria do ex-presidente denunciou que Folha e O Globo haviam adulterado a fala de Lula).
Desde muito antes de Assis Chateaubriand, empresas jornalísticas brasileiras cresceram explorando a capacidade de extorquir dinheiro sob a ameaça de investigar/denunciar/desconhecer autoridades ou empresários; para os que abriram o cofre, em compensação, ficou o benefício do “espaço controlado” para falar à opinião pública.
Quando um líder como o ex-presidente Lula decide falar sem tal intermediação corporativa, paira no ar forte ameaça ao monopólio da palavra que sustenta o jornalismo chantagista.
A ação de Lula ameaça o bolso dos Sirotsky. É disso que se trata.